sábado, 14 de junho de 2008

AFINAL, QUEM GANHOU?

Foi na tarde ensolarada do dia 05 de julho de 1982 que Brasil e Itália se enfrentaram pela segunda fase da Copa do Mundo de futebol, realizada na Espanha. A partida foi realizada na cidade de Barcelona, no Estádio Sarriá, que foi demolido anos atrás.
A seleção brasileira entrava em campo com o objetivo de se tornar tetracampeã mundial de futebol. Pelo caminho ficaram a então União Soviética (2x1), a Escócia (4x1), a Nova Zelândia (4x0) e a Argentina (3x1). Bastava um empate com a squadra azzura para que a seleção canarinho chegasse à semifinal.
Em campo, Valdir Peres, Leandro, Oscar, Luizinho, Júnior, Cerezo, Falcão, Sócrates, Zico, Serginho e Éder, pelo Brasil, enfrentariam a Itália de Dino Zoff, Bergomi, Scirea, Cabrini, Collovati, Gentile, Antognoni, Bruno Conti, Oriali, Tardelli e Paolo Rossi.
O Brasil encantava o mundo com seu futebol arte, um esquema de jogo voltado para o ataque. Até Leandro e Júnior, laterais da seleção brasileira e do Flamengo, campeão da Taça Libertadores da América e do Mundial Interclubes de 1981 (com aquele timaço da época), iam ao ataque com freqüência, em apoio a Falcão, Sócrates, Zico, Serginho e Éder. Ainda assim, havia gente que criticava o técnico Telê Santana, pedindo para este escalasse pontas.
Aqui no Brasil, havia uma verdadeira febre pela seleção nacional. As pessoas pintavam muros, postes e os chamados “gelos baianos” (aquelas armações de concreto para não deixar os carros subirem nas calçadas); colocavam bandeiras coloridas nas ruas e colecionavam figurinhas, como aquelas que vinham nos chicletes da Ping Pong. E toda vez que a seleção ganhava uma partida, o carnaval comia solto aqui no Brasil e em qualquer parte do mundo onde houvesse brasileiros.
Pelo lado da seleção italiana, as coisas não iam muito bem. A Itália havia empatado as três partidas de seu grupo pela primeira fase da Copa do Mundo – Polônia (0x0), Peru (1x1) e Camarões (1x1). A imprensa daquele país “caía de pau” nos jogadores, chegando até a insinuar que haveria um caso homossexual naquele escrete. Os jogadores italianos fizeram um pacto de silêncio, se recusando a falar com quem quer que fosse.
A Itália havia vencido a Argentina, dias antes, pelo placar de 2x1. Mesmo assim, a imprensa italiana fazia as suas críticas ao time.
A partida entre Brasil e Itália começou equilibrada. Mas foi a seleção italiana que marcou primeiro. Paolo Rossi aproveitou uma bobeada da defesa brasileira e guardou – Itália 1x0.
Sem se abater, o Brasil partiu para cima e, a partir de um toque magistral de Zico (como era uma de suas marcas), Sócrates bateu firme na bola para empatar a partida.
A zaga do Brasil dormiu novamente e Paolo Rossi marcou para a Itália, fazendo 2x1.
Houve o intervalo e, na volta para o campo, o Brasil empatou a partida novamente num chute de Falcão – Brasil 2 x Itália 2.
O empate era nosso. Faltavam aproximadamente 15 minutos para o final do jogo. Depois de um escanteio batido pela esquerda do gol brasileiro, o meio de campo italiano Marco Tardelli bateu mal na bola, mas Paolo Rossi estava no lugar certo e na hora certa (para eles, é claro), colocando a bola para o fundo da rede – Itália 3 x Brasil 2.
O engraçado (para não dizer tragicômico) era o fato de que Paolo Rossi havia sido suspenso por dois anos pela Justiça italiana, sob a acusação de fazer parte de um esquema de manipulação de resultados que influenciava na loteria esportiva daquele país. Não havia marcado um gol sequer até a partida contra o Brasil. Mas terminou a Copa do Mundo da Espanha como artilheiro, com seis gols.
O Brasil partiu para cima mais uma vez e, senão fosse pela não marcação de um pênalti de Gentile sobre Zico (que teve sua camisa rasgada) pelo juiz israelense Abraham Klein, teríamos empatado a partida.
Já no finalzinho da partida, Oscar cabeceou a bola após um cruzamento pela esquerda do ataque brasileiro, mas o goleiro Zoff fez uma defesa que garantiu a vitória da Itália. E, logo após aquela grande defesa, o juiz apitou, encerrando a partida.
Do lado dos italianos era só alegria, mas do Brasil, lágrimas e lamentações.
O mais incrível era que os próprios italianos pareciam sentir que cairiam fora da Copa. Em uma entrevista num programa de televisão, Zico disse que num encontro com Causio, seu companheiro da Udinese, este teria dito que as malas dos jogadores italianos já estavam prontas antes mesmo da partida começar. Mas, foram os jogadores brasileiros que tiveram que arrumar as suas malas e voltar para casa para, assim como nós torcedores, assistirem o resto da Copa do Mundo pela TV.
A Itália venceu a Polônia numa das partidas semifinais (2x0) e bateu a Alemanha Ocidental (nessa época a Alemanha estava dividida em duas – Alemanha Ocidental e Alemanha Oriental), na partida final, por 2x0.
Desde a derrota da seleção brasileira para a italiana, inúmeras tentativas de explicação foram feitas. O time do Brasil entrou em campo de sapato com salto alto? Faltaram os pontas? A Itália teve sorte? O juiz roubou? Mãe Diná fez mandinga? O escudo da camisa da seleção dava azar? (Há quem diga que o Brasil somente ganhou a Copa do Mundo de 1994 depois que a CBF voltou a usar a cruz de malta no escudo da camisa da seleção, ao invés da imagem da Taça Jules Rimet).
Há quem afirme categoricamente que a vitória da seleção italiana naquela Copa do Mundo serviu para enterrar o futebol arte. O futebol bonito teria sido definitivamente substituído pelo futebol força, pelo futebol medíocre e covarde, pelo futebol de resultado.
Uma coisa é fato e parece haver um consenso: a Itália ganhou a Copa, mas foi a seleção do Brasil de 1982 que entrou para a história.

2 comentários:

Shamai disse...

lembrar é viver!
Este foi meu grande drama de infância!!!

Anônimo disse...

Demorou, mas está aí:

Tadeu da Silva, TOMAZ. Alienígenas na sala de aula: uma introdução aos estudos culturais em educação. Petrópolis: Vozes, 1995.

Grande abraço!!!

Ulisses Nogueira