sexta-feira, 26 de setembro de 2008

A MÃO INVISÍVEL


Um dia, estava sentado em frente à TV assistindo um comercial de uma empresa de alimentos. Em seu anúncio publicitário, a dita empresa mostrava um determinado produto, associando-o à saúde, com imagens ligadas ao meio ambiente, como parques, cachoeiras, o céu azul com nuvens brancas, etc.
O problema é que eu conheço a empresa em tela, uma transnacional, e seu histórico. Ela foi inclusive responsável pela degradação de um recurso hídrico numa cidade do interior do Brasil, enquanto desenvolvia sua atividade empresarial de captação e venda de uma água mineral, principalmente para o mercado externo.
Pois bem, fiquei pensando como poderia afetar aquela empresa, já que, com o conluio do Poder Público local daquela cidade do interior brasileiro, a mesma explora o recurso hídrico sem problema, aferindo lucros exorbitantes e propagando uma imagem de empresa eticamente responsável.
Lembrei-me então do célebre Adam Smith e de outros adeptos da teoria da economia liberal, em que o Estado deveria abster-se de interferir no mercado, cabendo a este próprio mercado regular suas relações, mediante regras próprias de oferta e demanda, naquilo que ficou conhecido como a “mão invisível”, ou política econômica do laisse faire e do laissez passer.
Nesta mesma ocasião, lembrei de experiências como a ocorrida na Alemanha, a partir da década de 1970, que criou o chamado selo verde. Foi com aquela experiência que, levando em consideração as regras do mercado, empresas que não se preocupavam com a conservação ambiental começaram a ter prejuízo ou, pelo menos, comprometimento em seus lucros. É que os consumidores passaram a somente adquirir produtos de empresas que possuíssem programas voltados para a preservação do meio ambiente, durante sua cadeia produtiva.
Diante da TV e com aquelas lembranças, pensei no motivo de deixar de consumir produtos daquela empresa de alimentos. Não foi difícil encontrar argumento, pois, como já dito, sabia de seu histórico de degradação ambiental e da maneira hipócrita como associava seus produtos à saúde humana e ao meio ambiente.
Lembrei também de um presidente com uma cara meia debochada, para não dizer meio idiota (basta vê-lo falar em público), para também me perguntar o porquê de adquirir produtos de um país que se nega terminantemente em assinar e ratificar convenções internacionais que versam sobre mudanças climáticas, como o Protocolo de Kioto.
Perguntei-me então: Por que consumir produtos e serviços de empresas que poluem ou degradam o meio ambiente? Por que consumir produtos de países que violam os direitos humanos e não estão preocupados com o meio ambiente?
Para se ter uma idéia da dramaticidade do problema, basta conhecer um pouco da história de Tuvalu e Kiribati, dois países formados por pequenas ilhas no Oceano Pacífico, entre a Austrália e o Havaí.
Há uma previsão realística de que a população dos dois países terá que mudar de residência, tornando-se o que já se conhece como “refugiados ambientais”.
Tudo bem, alguns poderiam até dizer que se trata de um mito do aquecimento global, eis que a elevação do nível dos oceanos tenderia a acontecer de qualquer maneira. Mas o problema parece ser o efeito catalisador da ação humana sobre a dinâmica da natureza, especialmente sobre o clima e a temperatura, mediante a remessa na atmosfera de CO2. O que poderia levar cinqüenta anos ou mais para acontecer, já se assiste, sem que se dê tempo as diversas espécies animais (inclusive nós) e vegetais de se adaptarem às novas situações.
No Brasil, há relatos de acontecimentos que envolvem o nível da maré em cidades como Olinda, em Pernambuco, por exemplo. A freqüência e o impacto que as ondas do mar têm gerado no litoral do país também vêm chamando a atenção de pesquisadores.
Fico pensando em minhas sensações de quando era criança. Ainda que já vivêssemos em ambiente comprometido, percebo que, atualmente, as coisas parecem estar fora de controle. O que ontem era uma mata verde e densa, hoje se transforma em um campo de plantação de soja ou pasto, quando não um deserto; o rio que antes banhava cidades, hoje está seco; um dia, a temperatura está fria e, de repente, no outro, mal conseguimos suportar o calor.
Também nunca poderia imaginar que um dia a água, elemento natural que achávamos que fosse inesgotável, se tornaria um bem escasso e caro.
Fico pensando em nossos filhos e netos, assim como será o nosso legado para eles.
Naquele dia, em frente à TV, ao assistir a anúncio da tal empresa de alimentos e me lembrar dos teóricos da economia liberal, pensei: ora, se o mercado tem suas próprias regras e nós somos parte integrante deste mercado, então somos nós mesmos que ditamos as tais regras.
Hoje, quando vou a um supermercado, por exemplo, antes de adquirir um produto, vejo sua marca, o fabricante, o rótulo que mostra a composição química do mesmo e outras informações que julgo relevantes, em que embalagem o produto está condicionado, etc.
Procuro não consumir água mineral e outros produtos daquela empresa que degrada um recurso hídrico numa cidade do interior do Brasil, assim como tantos outros que conheço, pois sei quais são as empresas que não se preocupam com o meio ambiente e as repercussões de suas atividades. Afinal, essa é minha "mão invisível".

UMA RECEITA CHIQUE

Você algum dia já viu numa prateleira de mercado ou num restaurante aquele paté chique que aquelas pessoas bem-sucedidas comem e que tem um nome elegante - Foie Gras.
Origiária da língua francesa, Fois Gras significa fígado do pato (ou de ganso).
Talvez você também queira ser visto comprando ou comendo Fois Gras, marcando sua imagem pessoal na alta culinária, enriquecendo assim seu capital cultural. Afinal, pessoas chiques comem Fois Gras.
Só que, o que você não sabia é que a receita é super simples e barata. Dá até pra fezer em casa, por um preço módico, muito mais em conta do que aquele dos mercados e restaurantes.
Pois bem, aqui vai a receita:
1. Pegue um pato ou ganso, preferencialmente adulto, mas ainda novo.
2. Prenda-o numa jaula bem apertada, de modo que o mesmo não possa se locomover.
3. Dê a ele ração a base de milho e gordura de porco, normalmente, cerca de 150 a 200 gramas por dia, durante 30 dias.
4. Quando atingir os 30 dias de alimentação e condicionamento, pegue o pato ou ganso, pegue uma mangueira ou um cano com aproximadamente 30 cm de comprimento e enfie na goela do animal, bem fundo, até o estômago. O animal vai sofrer um pouco, mas afinal quem é que não sofre, não é mesmo. Antes ele que você, ora.
5. Dê ao pato ou ganso entre 1 e 3 quilos de comida pela mangueira ou cano, até sentir que o animal não agüenta mais.
6. Faça isso tantos dias até que o animal morra. Não se preocupe, ele agoniza, mas morre relativamente rápido.
7. Abra o pato ou o ganso e retire seu fígado. Perceberá que o tamanho do órgão cresceu cerca de 10 vezes do tamanho original.
8. Pegue o fígado e prepare um paté delicioso. Pode adicionar ervas, óleo, azeite e outros ingredientes.
9. Sirva e saboreie com amigos ou parentes.
Bom, agora que você sabe como se faz um típico paté de Foie Gras, sabe qual é a diferença entre você e aqueles que o produzem ou comercializam? Nenhuma. Ambos compartilham da morte desgraçada de um animal que, ao agonizar, serviu para masturbar seu ego; fazer você, seus amigos e parentes se sentirem chiques e culturalmente relevantes.
Ah, esqueci de te informar uma coisa: além de compactuar nos maus-tratos dos animais, você provavelmente estará mais doente ou menos saudável. É que o paté de Foie Gras possui altíssimos índices de gordura.
Cuidado para não morrer agonizando que nem o pato ou ganso, de tanto comer iguarias, na mesma medida e em que procura engordar se ego.