quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

OITO METAS PARA FAZER A DIFERENÇA

Neste dia 10 de dezembro de 2008, a Declaração Universal dos Direitos do Homem, também conhecida como carta das Nações Unidas (ONU), completa 60 anos.
O referido documento é um marco no reconhecimento dos direitos inerentes à pessoa humana, após anos de atrocidades, sobretudo, como aquelas verificadas nos campos de concentração e extermínio da Europa nazi-fascista, por ocasião das explosões das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, e pela morte de milhões de civis em várias partes da Terra, entre os anos de 1936 e 1945.
A Organização das Nações unidas (ONU) surgiu após a Segunda Guerra Mundial como uma esperança de uma alternativa viável da fracassada Liga das Nações, estabelecida ao final do conflito mundial de 1914-1919.
Avanços ocorreram no cenário internacional, mas há o reconhecimento que existe muito a ser realizado, com vistas a garantir a efetividade da primazia da pesoa humana. Afinal, há um processo de degradação ambiental, em nível global, crianças morrem de diarréia e fome, mulheres continuam sendo vítimas de discriminação e agressões, a AIDS/SIDA permanece com uma doença em avanço (mesmo diante dos programas de preservação), a educação básica ainda continua a ser um desafio, entre outras questões que ainda vigem.
A Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu oito metas para o milênio. estas metas tratam de congregar temas como gênero, proteção ao meio ambiente, busca pelo desenvolvimento, combate à fome, à pobreza, às doenças e à mortalidade infantil.
A pergunta que fica no ar é a seguinte: conseguiremos cumpri-las?

AS PALAVRAS DE "MARCITO"


A situação já andava pesada no Brasil havia quatro anos. O golpe militar de 1964 marcou o início de um período de "chumbo" no país e servio de "escolinha" para os regimes autoritários que se seguiriam pela América do Sul, como ocorreu no Chile, na Argentina, no Uruguai, na Bolívia e no Paraguai.
No dia 30 de agosto de 1968, a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) foi fechada e a Universidade de Brasíilia (UNB) foi invadida pela Polícia Militar, que espancou vários estudantes.
Considerando a gravidade dos dois acontecimentos, no dia 02 de setembro daquele ano, o então Deputado Márcio Moreira Alves, o "Marcito", como era carinhosamente chamado, fez um discurso propondo um boicote por parte da população às comemorações do Dia da Independência (07/09), crticando, inclusive, os militares.
O discurso do deputado Márcio Moreira Alves, proferido no dia 02 de setembro de 1968, segue abaixo:

"Creio haver chegado, após os acontecimentos de Brasília, o grande momento da união pela democracia. Este é também o momento do boicote. As mães brasileiras já se manifestaram. Todas as classes sociais clamam por esse repúdio à violência.
No entanto, isso não basta. É preciso que se estabeleça, sobretudo por parte das mulheres, como já começou a se estabelecer nesta Casa por parte das mulheres parlamentares da Arena, o boicote ao militarismo. Vem aí o Sete de Setembro. As cúpulas militaristas procuram explorar o sentimento profundo de patriotismo do povo e pedirão aos colégios que desfilem juntos com os algozes dos estudantes. Seria necesário que cada pai e cada mãe se compenetrasse de que a presença de seus filhos nesse desfile é um auxílio aos carrascos que os espancam e metralham nas ruas. Portanto, que cada um boicote esse desfile.
Esse boicote pode passar também às moças, aquelas que dançam com cadetes e namoram jovens oficiais. Seria preciso fazer hoje no Brasil com que as mulheres de 1968 repetissem as paulistas da Guerra dos Emboabas e recusassem a entrada à porta de sua casa aqueles que vilependiam a Nação. Recusassem a aceitar aqueles que sillenciam e, portanto, se acumpliciam"

AI-5



Muita gente se refere ao Ato Institucional n° 5, ou AI-5, como ficou conhecido, o qual, de fato, significou a consolidação da arbitrariedade do governo militar que havia se instalado no Brasil, a partir do ano de 1964.
Não bastassem as violações aos direitos humanos fundamentais no país, o então presidente Costa e Silva editou o AI-5, no dia 13 de dezembro de 1968, após dois discursos do deputado Márcio Moreira Alves e a recusa do Congresso Nacional em cassar o mandato deste, a pedido dos ministros militares.
Abaixo, segue a íntegra do Ato Institucional n° 5, para que possamos tê-lo em mente e lutarmos para que tal arbitrariedade nunca mais se repita.




O PRESIDENTE DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL, ouvido o Conselho de Segurança Nacional, e

CONSIDERANDO que a Revolução brasileira de 31 de março de 1964 teve, conforme decorre dos Atos com os quais se institucionalizou, fundamentos e propósitos que visavam a dar ao País um regime que, atendendo às exigências de um sistema jurídico e político, assegurasse autêntica ordem democrática, baseada na liberdade, no respeito à dignidade da pessoa humana, no combate à subversão e às ideologias contrárias às tradições de nosso povo, na luta contra a corrupção, buscando, deste modo, “os. meios indispensáveis à obra de reconstrução econômica, financeira, política e moral do Brasil, de maneira a poder enfrentar, de modo direito e imediato, os graves e urgentes problemas de que depende a restauração da ordem interna e do prestígio internacional da nossa pátria” (Preâmbulo do Ato Institucional nº 1, de 9 de abril de 1964);
CONSIDERANDO que o Governo da República, responsável pela execução daqueles objetivos e pela ordem e segurança internas, não só não pode permitir que pessoas ou grupos anti-revolucionários contra ela trabalhem, tramem ou ajam, sob pena de estar faltando a compromissos que assumiu com o povo brasileiro, bem como porque o Poder Revolucionário, ao editar o Ato Institucional nº 2, afirmou, categoricamente, que “não se disse que a Resolução foi, mas que é e continuará” e, portanto, o processo revolucionário em desenvolvimento não pode ser detido;
CONSIDERANDO que esse mesmo Poder Revolucionário, exercido pelo Presidente da República, ao convocar o Congresso Nacional para discutir, votar e promulgar a nova Constituição, estabeleceu que esta, além de representar “a institucionalização dos ideais e princípios da Revolução”, deveria “assegurar a continuidade da obra revolucionária” (Ato Institucional nº 4, de 7 de dezembro de 1966);
CONSIDERANDO, no entanto, que atos nitidamente subversivos, oriundos dos mais distintos setores políticos e culturais, comprovam que os instrumentos jurídicos, que a Revolução vitoriosa outorgou à Nação para sua defesa, desenvolvimento e bem-estar de seu povo, estão servindo de meios para combatê-la e destruí-la;
CONSIDERANDO que, assim, se torna imperiosa a adoção de medidas que impeçam sejam frustrados os ideais superiores da Revolução, preservando a ordem, a segurança, a tranqüilidade, o desenvolvimento econômico e cultural e a harmonia política e social do País comprometidos por processos subversivos e de guerra revolucionária;
CONSIDERANDO que todos esses fatos perturbadores, da ordem são contrários aos ideais e à consolidação do Movimento de março de 1964, obrigando os que por ele se responsabilizaram e juraram defendê-lo, a adotarem as providências necessárias, que evitem sua destruição,
Resolve editar o seguinte
ATO INSTITUCIONAL
Art 1º - São mantidas a Constituição de 24 de janeiro de 1967 e as Constituições estaduais, com as modificações constantes deste Ato Institucional.
Art 2º - O Presidente da República poderá decretar o recesso do Congresso Nacional, das Assembléias Legislativas e das Câmaras de Vereadores, por Ato Complementar, em estado de sitio ou fora dele, só voltando os mesmos a funcionar quando convocados pelo Presidente da República.
§ 1º - Decretado o recesso parlamentar, o Poder Executivo correspondente fica autorizado a legislar em todas as matérias e exercer as atribuições previstas nas Constituições ou na Lei Orgânica dos Municípios.
§ 2º - Durante o período de recesso, os Senadores, os Deputados federais, estaduais e os Vereadores só perceberão a parte fixa de seus subsídios.
§ 3º - Em caso de recesso da Câmara Municipal, a fiscalização financeira e orçamentária dos Municípios que não possuam Tribunal de Contas, será exercida pelo do respectivo Estado, estendendo sua ação às funções de auditoria, julgamento das contas dos administradores e demais responsáveis por bens e valores públicos.
Art 3º - O Presidente da República, no interesse nacional, poderá decretar a intervenção nos Estados e Municípios, sem as limitações previstas na Constituição.
Parágrafo único - Os interventores nos Estados e Municípios serão nomeados pelo Presidente da República e exercerão todas as funções e atribuições que caibam, respectivamente, aos Governadores ou Prefeitos, e gozarão das prerrogativas, vencimentos e vantagens fixados em lei.
Art 4º - No interesse de preservar a Revolução, o Presidente da República, ouvido o Conselho de Segurança Nacional, e sem as limitações previstas na Constituição, poderá suspender os direitos políticos de quaisquer cidadãos pelo prazo de 10 anos e cassar mandatos eletivos federais, estaduais e municipais.
Parágrafo único - Aos membros dos Legislativos federal, estaduais e municipais, que tiverem seus mandatos cassados, não serão dados substitutos, determinando-se o quorum parlamentar em função dos lugares efetivamente preenchidos.
Art 5º - A suspensão dos direitos políticos, com base neste Ato, importa, simultaneamente, em:
I - cessação de privilégio de foro por prerrogativa de função;
II - suspensão do direito de votar e de ser votado nas eleições sindicais;
III - proibição de atividades ou manifestação sobre assunto de natureza política;
IV - aplicação, quando necessária, das seguintes medidas de segurança:
a) liberdade vigiada;
b) proibição de freqüentar determinados lugares;
c) domicílio determinado,
§ 1º - o ato que decretar a suspensão dos direitos políticos poderá fixar restrições ou proibições relativamente ao exercício de quaisquer outros direitos públicos ou privados.
§ 2º - As medidas de segurança de que trata o item IV deste artigo serão aplicadas pelo Ministro de Estado da Justiça, defesa a apreciação de seu ato pelo Poder Judiciário.
Art 6º - Ficam suspensas as garantias constitucionais ou legais de: vitaliciedade, inamovibilidade e estabilidade, bem como a de exercício em funções por prazo certo.
§ 1º - O Presidente da República poderá mediante decreto, demitir, remover, aposentar ou pôr em disponibilidade quaisquer titulares das garantias referidas neste artigo, assim como empregado de autarquias, empresas públicas ou sociedades de economia mista, e demitir, transferir para a reserva ou reformar militares ou membros das polícias militares, assegurados, quando for o caso, os vencimentos e vantagens proporcionais ao tempo de serviço.
§ 2º - O disposto neste artigo e seu § 1º aplica-se, também, nos Estados, Municípios, Distrito Federal e Territórios.
Art 7º - O Presidente da República, em qualquer dos casos previstos na Constituição, poderá decretar o estado de sítio e prorrogá-lo, fixando o respectivo prazo.
Art 8º - O Presidente da República poderá, após investigação, decretar o confisco de bens de todos quantos tenham enriquecido, ilicitamente, no exercício de cargo ou função pública, inclusive de autarquias, empresas públicas e sociedades de economia mista, sem prejuízo das sanções penais cabíveis.
Parágrafo único - Provada a legitimidade da aquisição dos bens, far-se-á sua restituição.
Art 9º - O Presidente da República poderá baixar Atos Complementares para a execução deste Ato Institucional, bem como adotar, se necessário à defesa da Revolução, as medidas previstas nas alíneas d e e do § 2º do art. 152 da Constituição.
Art 10 - Fica suspensa a garantia de habeas corpus, nos casos de crimes políticos, contra a segurança nacional, a ordem econômica e social e a economia popular.
Art 11 - Excluem-se de qualquer apreciação judicial todos os atos praticados de acordo com este Ato institucional e seus Atos Complementares, bem como os respectivos efeitos.
Art 12 - O presente Ato Institucional entra em vigor nesta data, revogadas as disposições em contrário.
Brasília, 13 de dezembro de 1968; 147º da Independência e 80º da República.
A. COSTA E SILVA
Luís Antônio da Gama e Silva
Augusto Hamann Rademaker Grünewald
Aurélio de Lyra Tavares
José de Magalhães Pinto
Antônio Delfim Netto
Mário David Andreazza
Ivo Arzua Pereira
Tarso Dutra
Jarbas G. Passarinho
Márcio de Souza e Mello
Leonel Miranda
José Costa Cavalcanti
Edmundo de Macedo Soares
Hélio Beltrão
Afonso A. Lima
Carlos F. de Simas

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

VOZES

Após alguns acontecimentos, em especial nestas últimas décadas, como a eleição de Barak Obama para a presidência dos Estados Unidos, no dia 5 de novembro de 2008, me convenço que 1968 foi o ano que não terminou, se me permitem parafrasear a expressão de Zuenir Ventura.
O ano de 1968 foi um ano marcante para a história mundial, a sua agitação nas esferas política e social.
O ano já começou com a Primavera de Praga, um levante tcheco contra a denominada Cortina de Ferro, pacto político-militar sob a liderança da então União Soviética (URSS). O referido movimento se iniciou em janeiro de 1968 com a eleição de Alexander Dubček, tendo sido sufocado em agosto daquele mesmo ano.
Em abril de 1968, assistimos o assassinato de Martin Luther King, um dos líderes do movimento negro (ou afro-americano, ou afro-descendente, sei lá) na luta pela afirmação dos chamados Direitos Civis, que somente seriam reconhecidos por uma lei assinada pelo então Presidente Lyndon Johnson, após a morte do reverendo que “tinha um sonho” (“I have a dream...”, ele já havia pronunciado).
Naquele mesmo mês, o mundo veria com olhos bem arregalados o filme 2001: uma odisséia no espaço, de Stanley Kubrick, que colocou na mente dos espectadores uma incógnita acerca do futuro.
Paris amanheceu no dia 2 com o Mai 1968, um movimento iniciado por estudantes de Sorbonne e Nanterre contra o status quo, mas logo seguidos por funcionários públicos, operários, bancários, ambientalistas, feministas, entre outros seguimentos.
“Sejam realistas, exijam o impossível” constituiu um dos lemas de um tempo que se protestava contra a Guerra Fria, a Guerra do Vietnã, a pobreza, o capitalismo, a opressão, o autoritarismo, etc.
Em 25 de julho, o Papa Paulo VI publicou a encíclica Humanae Vitae, que condenava o uso de anticoncepcionais, importando aqui registrar que tal publicação ia de encontro aos anseios das mulheres por igualdade de direitos em relação aos homens, como direito ao trabalho, remuneração paritária ao sexo masculino, e, destacadamente, a autonomia nas questões sexuais, inclusive a contracepção.
No dia 26 de julho de 1968, ocorreu a Passeata dos Cem Mil, como mais tarde ficou conhecida, num contexto de ditadura militar, cuja característica altamente repressiva já se havia visto na morte do estudante Edson Luis de Lima Souto, de 16 anos de idade, executado por um policial militar com um tiro no peito, no restaurante do Calabouço, no Rio de Janeiro.
O movimento contou com a participação de estudantes, artistas, intelectuais, políticos, advogados, entre outros. Significou a voz da sociedade contra o autoritarismo e a truculência.
Dias depois o referido evento, o deputado Márcio Moreira Alves proferiu um discurso criticando os militares que se encontravam no Poder, desde o golpe à democracia em 1964. Este fato despertou a indignação dos militares, culminando com a edição, em 13 de dezembro de 1968, do Ato Institucional n° 5, pelo então presidente Costa e Silva, em represália a não-cassação do mandato do mencionado deputado pelo Congresso Nacional
Na prática, o AI-5, como ficou conhecido, fechava o Congresso Nacional, cassava mandatos e direitos políticos, estabelecia a censura prévia sobre os meios de comunicação e sobre obras cênicas, cinematográficas, literárias e musicais, além de suspender o habeas corpus, o que consolidando o começo de um dos períodos mais nefastos da história nacional – os Anos de Chumbo.
O ano de 1968 se encerraria com os Estados Unidos da América numa posição delicada na Guerra do Vietnã, sobretudo após a Ofensiva Tet (ataque a parte sul do país no ano novo vietnamita), a invasão da Embaixada por vietcongs (simpatizantes do governo comunista do Vietnã do Norte) e o massacre da população civil no vilarejo de My Lai. A opinião pública e os movimentos estudantis trataram de sinalizar a reprovação da permanência das tropas norte-americanas no conflito no sudeste asiático.
Vivíamos a Era de Aquários, assistindo Yellow Submarine da banda inglesa The Beatles, ouvindo Lucy and the Sky with Diamonds (basta perceber a abreviatura LSD para saber do que se trata), Let’s get together, do The Youngbloods, e É proibido proibir, do Caetano Veloso.
Passados quarenta anos, estamos à beira do encerramento de mais um ano, cujas repercussões de 1968 ainda podem ser sentidas.
Os Estados Unidos da América e o Mundo amanheceram no dia 5 de novembro de 2008 com o primeiro presidente negro (ou afro-americano, ou afro-descendente) da história daquele país, portanto, quarenta anos depois do assassinato de Martin Luther King, na cidade de Memphis, Tenneessee.
Desde a primeira exibição nos cinemas de 2001: uma odisséia no espaço, especialmente a partir da (neo) globalização iniciada no final da década de 1970, e muito sentida nos dias atuais, o mundo se agita, dada a velocidade e volatilidade de conceitos e paradigmas típicos de uma sociedade em rede (conforme expressão utilizada por Manuel Castells). A tecnologia da informação “move muito rápido o chão bem embaixo de nossos pés”, provocando um sentimento coletivo de insegurança: “de onde viemos, onde estamos, para onde vamos?”
As mulheres ainda continuam a busca de seu legítimo espaço na sociedade, mas agora imbuídas de uma concentração estafante, verificada pelo papel simultâneo de mãe, esposa, dona de casa e profissional. Nesta era de qualidade total, a integridade física e moral, contracepção, dignidade na vida provada e no trabalho ainda constituem pauta do sexo feminino.
Se antes a Igreja se manifestava contrária à contracepção, quarenta anos depois critica a utilização de células embrionárias, ou células-tronco, o que para muitos significa a esperança de prevenção, reabilitação e cura de doenças e limitações físicas.
Um assunto tão polêmico que forçou o Superior Tribunal de Justiça (STF), a Suprema Corte nacional, a promover um debate público e a julgar a constitucionalidade ou não da utilização das células aqui mencionadas, cujo relator foi o Ministro Carlos Ayres de Brito.
O Brasil caminha para o final do segundo mandato do primeiro Presidente da República proletário de sua história. Sem que se faça qualquer comentário sobre as conquistas e os prováveis retrocessos de Luís Inácio Lula da Silva enquanto Presidente da República, neste momento merece ênfase o simbolismo que a chegada de um Presidente “popular” exerceu e ainda exerce sobre a nação.
Da mesma sorte, a América Latina, especialmente em países como Bolívia e Venezuela, parece haver a liberação das “vozes emudecidas a partir da década de 1960”. Sem entrar no mérito se os governos de tais países seriam benéficos ou não, cabe assinalar a crítica ao (neo) colonialismo e às intervenções estrangeiras em assuntos externos. A Revolução Cubana de 1959 permanece como fonte inspiradora, mesmo que o governo cubano seja considerado por muitos como um “esqueleto”, dadas as crises conjunturais da ilha caribenha e as modificações sofridas pelo regime. Tratar-se-iam, pois, de movimentos pela afirmação do direito á soberania nacional e à autodeterminação.
Em agosto de 2008, tropas russas invadiram a República da Geórgia, devido à questões envolvendo a província da Ossétia do Sul, fazendo-nos lembrar da invasão das tropas do chamado Pacto de Varsóvia, lideradas pela União Soviética (URSS), na Tchecoslováquia, em agosto de 1968.
Durante as eleições realizadas para o cargo de Prefeito da cidade do Rio de Janeiro, Fernando Gabeira, ex-integrante do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (o MR-8, como ficou conhecido), e candidato pela coligação PV, PSDB e PPS, denominada Frente Carioca, chegou ao segundo turno com um número expressivo de votos em várias partes do município. Perdeu a eleição no segundo turno para o candidato Eduardo Paes, do PMDB, por uma margem inferior a dois por centos de diferença.
O mais surpreendente é que Fernando Gabeira optou por aquilo que se chamou de campanha limpa, ou seja, não utilizou anúncios publicitários como cartazes (banners e outdoors), nem panfletos (“santinhos”), preservando a cidade livre da poluição ambiental e visual. Entretanto, sua candidatura, ao que comentam, sinaliza o início de uma nova era na política nacional.
No final de outubro de 2008, mobilizados basicamente pela rede mundial de computadores (internet) milhares de pessoas (em sua grande maioria, jovens estudantes) organizaram e realizaram um movimento no centro da cidade do Rio de Janeiro, com concentração na Cinelândia e uma passeata até a sede do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), na Avenida Churchill, erguendo suas vozes em protesto ao que chamaram de “falta de ética e transparência no processo eleitoral e violação da democracia”.
Um negro Presidente dos Estados Unidos da América, um Presidente da República proletário no Brasil, movimentos nacionalistas na América Latina, tropas russas invadem uma República independente, mulheres em casa e nas ruas, estudantes nas ruas e um ex-revolucionário quase Prefeito da cidade do Rio de Janeiro. As vozes de 1968 ainda parecem ecoar pelo planeta, inclusive no Brasil, mesmo decorridos quarenta anos. Será que alguém consegue ouvi-las?

Foto da Passeata dos Cem Mil de Evandro Teixeira.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

UN HERMANO EN NUESTRA CASA



A história abaixo possui fatos reais e outros fictícios. Entretanto, esta mesma história tem como objetivo narrar fatos reais e dramáticos, a partir de algumas experiências pessoas do autor.
Tendo como pano de fundo a Copa do Mundo de Futebol na Argentina, no ano de 1978, esta história mostra como há coisas que o tempo não apaga. Amor, cumplicidade e tolerância são algumas delas.


Foi no final de maio de 1978 que um primo meu chegou da Argentina em nossa casa. Segundo minha mãe, veio passar um tempo com a gente.
Confesso que não sabia que a gente tinha parentes naquele país. Mas, aos poucos, mais histórias de minha família seriam contadas por minha mãe.
Descobri que a minha família, por parte de pai, era uma verdadeira salada de frutas. Tinha poloneses, norte-americanos e até argentinos. E a tal salada de frutas ficava ainda mais rica com a colaboração do lado de minha mãe, cuja família tinha franceses, portugueses e, é claro, o bom sangue brasileiro.
Vivíamos o período da chamada ditadura militar. Mas, como eu era um simples garoto, não sabia direito os efeitos do citado regime político.
Estávamos à beira de uma Copa do Mundo de futebol. E a Argentina seria a sede da competição de 1978.
Então, o que é que aquele meu primo argentino estava fazendo lá em casa? Ele não deveria estar assistindo a Copa do Mundo ao vivo, como tantos outros Argentinos? Por que deixar o país justamente no momento em que todos queriam estar lá?
Meu irmão, que era mais velho do que eu quase uma década e altamente politizado, me explicou que as coisas não estavam bem na Argentina. Por aqui no Brasil, a ditadura já dava seus sinais de fadiga, mas, por lá, o “pau ainda tava cantando”.
Ouvi atentamente as palavras de meu irmão, mas não me importei tanto com a situação, mesmo porque eu era apenas um garoto, mais interessado em assistir a Copa do Mundo, jogar futebol de botão ou futebol de tampinhas. É que uma empresa de refrigerantes havia lançado uma coleção de tampinhas com as caras e os nomes dos jogadores das seleções participante da Copa do Mundo de 1978. A gente amassava um pedacinho de papel, fazendo uma bolinha, e a “chutava” com os dedos, com um jogador passando para o outro. Os gols eram feitos com caixas de fósforo. Era uma febre entre a garotada!
Cheguei a jogar futebol de tampinhas com aquele meu primo. Não posso esquecer o Mário Kempes. Afinal, a Argentina do meu primo venceu o meu Brasil, de Leão, Oscar, Nelinho, Cerezo, Rivelino Zico, Dirceu e Reinaldo.
Mas, o que eu não sabia é que a Copa seria a competição do tal Mário Kempes.
Da primeira fase da Copa do Mundo, me lembro muito pouco. A não ser daquele juiz maluco que terminou a partida do Brasil contra a Suécia, antes do Zico botar a bola pra dentro do gol sueco. O escanteio foi cobrado para o Brasil e, justamente quando comemorávamos, o tal juiz anulou o gol, dizendo que partida havia sido encerrada antes da cabeçada de Zico.
Tem gente que diz que roubalheira contra o Brasil naquela Copa do Mundo havia começado naquele lance.
Meu primo era um cara legal. E à medida que íamos convivendo, tive a oportunidade de ir aprendendo a falar espanhol, ou castellano, que se diz na Argentina.
Ele jogava futebol de botão e de tampinha comigo, conversávamos, íamos à praia juntos, mas ele se dava melhor ainda com meu irmão. Eles eram quase da mesma idade. Eles iam juntos às festinhas, às discotecas (na época, era assim que se chamavam), aos bares, etc.
A estadia de meu primo lá em casa também me serviu para que eu conhecesse cada vez mais a diversidade cultural. Meu primo e meu irmão ouviam desde rock até disco, passando pela MPB. Uma hora tocava uma música do Led Zeppelin, em outra, do Caetano Veloso, até chegar em “shake your booty”, do KC & The Sunshine Band.
E as festas lá em casa? Lembro de uma vez que meu irmão colocou umas sessenta pessoas num espaço que mal cabiam vinte! Foi uma loucura.
Tomei um porre daqueles, após fazer uma espécie de alquimia com as bebidas que encontrava pela frente. Acabei ficando “alegrinho” e pra dormir...
A Copa do Mundo de 1978 começou e as atenções de voltaram para o desempenho da seleção brasileira na competição. Mas lá em casa, além do Brasil, a equipe argentina também era motivo de torcida.
Minha mãe, com aquele jeito “mãezona” de ser, logo abraçou a causa do meu primo. Dizia ela que, tínhamos família na Argentina e, por isso, quando o Brasil não estivesse jogando, deveríamos torcer pelos hermanos.
Aquilo soou muito estranho para mim. Imagine: os argentinos sempre foram nossos “inimigos”, principalmente dentro das quatro linhas. Só de pensar em comemorar um gol argentino, me causava uma sensação estranha. E sair de casa com uma camisa da equipe alvi-celeste, nem pensar! Eu tinha medo até de apanhar na rua.
Brasil e Argentina se classificaram em seus respectivos grupos, chegando à segunda fase da Copa do Mundo. O negócio é que ambas as seleções caíram no mesmo grupo na segunda fase.
Naquele tempo, não havia partidas semifinais, como conhecemos hoje. As seleções mais bem colocadas na primeira fase da Copa se dividiam em dois grupos, com quatro equipes cada. Os primeiros colocados de cada grupo faziam a Final, enquanto os segundos melhores colocados disputavam o terceiro lugar.
Numa noite de junho, Brasil e Argentina se enfrentaram. Lá em casa, a torcida estava dividida, com uma perceptível desvantagem para meu primo. Éramos três contra um. Mas o clima de fair play ficou claro, ainda mais pelo fato do jogo haver terminado zero a zero. A classificação do Brasil ou da Argentina para a partida final da Copa do Mundo somente se saberia nas partidas seguintes. Na última rodada, o Brasil enfrentaria a Polônia, enquanto que a Argentina teria o Peru pela frente.
O Brasil venceu a Polônia por 3 x1, numa partida realizada a tarde. Dávamos como certa a classificação da seleção nacional para a Final, contra o primeiro lugar do outro grupo, que tinha Alemanha Ocidental, Áustria, Holanda e Itália.
Pra se ter uma idéia da legitimidade de nossa confiança, a Argentina precisaria vencer a seleção peruana por um placar de, no mínimo, cinco gols de diferença, se quisesse disputar a Final. Ora, nas nossas cabeças isso era impossível!
Pois bem, a partida entre Argentina e Peru chegou ao fim, com os hermanos vencendo pelo placar de 6 x 0. Era realmente inacreditável. A seleção peruana era não era ruim; prova iddso era que havia feito uma boa primeira fase da Copa, se classificando em primeiro lugar em seu grupo. Tudo bem que havia perdido as duas partidas anteriores válidas pela segunda fase, para a Polônia e o Brasil. Mas, daí perder de seis a zero para a Argentina... Aí, são outros quinhentos.
Muita gente disse (e continua dizendo até hoje) que a seleção peruana foi subornada. Mas meu primo, apesar da alegria pela classificação de seu país para a partida final da Copa do Mundo, tinha outra versão para a história.
De acordo com meu primo, havia duas coisas que não poderíamos deixar de lado:
Uma delas se referia ao fato de que nenhum jogador peruano poderia regressar ao seu país com a “cara limpa”. Imagine perder uma partida de Copa do Mundo por uma goleada histórica como aquela. Ademais, meu primo tinha ciência que os argentinos não gozavam, já naquela época, de um prestígio junto aos outros povos. Ele havia viajado por países como Bolívia, Chile, Paraguai e Uruguai. E se lembrava perfeitamente como havia sido “bem tratado” nestes países.
Portanto, ainda acordo com ele, não haveria suborno que colocaria a honra dos peruanos em segundo plano.
Outro fato que ele fazia questão de dizer era que a ditadura militar era “carniceira”. Eles fariam qualquer coisa para que a Argentina vencesse aquela Copa do Mundo. A imagem do regime militar naquele país, a exemplo do que ocorreu com o Brasil em 1970, dependia do sucesso da equipe nacional na competição mundial de futebol.
Durante a Copa do Mundo, houve uma espécie de trégua entre os militares que ocupavam o Poder na Argentina e os grupos de resistência. O evento esportivo foi tão bom para o governo (e por que não dizer também para as organizações para-militares) que, graças àquele, muitos resistentes foram presos e “desaparecidos”, em pleno período de trégua.
O Brasil venceu a Itália, na partida válida pelo terceiro lugar da Copa, com um golaço do lateral Nelinho, em que a bola fez uma curva incrível, batendo o goleiro da azzurra Dino Zoff. Comemoramos como se fosse a vitória que garantia o título mundial de futebol daquele ano, enquanto os jogadores da seleção canarinho davam uma volta olímpica pelo gramado, considerando-se “campeões morais”.
Dias depois, chegava a hora da grande Final entre a Argentina, dona da casa, e a Holanda, seleção que havia encantado o mundo com o “carrossel” ou a “laranja mecânica” de quatro anos antes, na Copa do Mundo na Alemanha.
A seleção holandesa não tinha Cruyff, seu grande craque. O gênio da camisa 14 da equipe laranja se recusou a participar da Copa do Mundo em boicote ao regime militar que ocupava o Poder na Argentina. E ele foi acompanhado por outros atletas, como o alemão Paul Breitner.
Percebi que meu primo concentrava um misto de alegria e tristeza. Sentia alegria por que era a chance de ver a seleção de seu país campeã do Mundo pela primeira vez. Mas, ao mesmo tempo, estava triste, pois sentia saudades da família e dos amigos que por lá ficaram.
A partida começou, e meu primo estava a ponto de comer os dedos. Argentina e Holanda fizeram uma partida muito disputada.
Quando Kempes abriu o marcador ainda no segundo tempo, o estádio Monumental de Nuñes, em Buenos Aires, quase veio abaixo. E meu primo enlouqueceu. Pulava e cantava feito doido.
Eu olhava aquela cena com espanto. Meu primo pulando feito maluco, a pipoca caindo pelo chão e o refrigerante em sua mão idem.
O estranho é que eu também fiquei meio louco ou, pelo menos, ansioso. Nem lembro quantas balas soft (aquelas coloridas, sabor de fruitas, duras pacas) quebrei nos dentes.
E quando a Holanda empatou o jogo, no segundo tempo, o referido estádio ficou em silêncio, assim como meu primo, ali no meio da sala, com a cabeça no chão, bem em frente à televisão (assistimos a maioria dos jogos da Copa do Mundo em uma televisão em preto e branco, mas as finais numa televisão colorida que ganhamos de presente de meu avô, um militar aposentado).
Notei que a vizinhança e as pessoas na rua torciam pela equipe de camisa laranja. Mas nós, lá em casa, torcíamos pela Argentina. Até eu, que antes tinha resistência, acabei me rendendo aos “inimigos”.
Quase no final do segundo tempo, um jogador holandês, que não lembro o nome, chutou a bola na trave de Fillol, o goleiro argentino. Meu primo gelou.
No intervalo entre o tempo regulamentar e a prorrogação tratamos de ir ao banheiro, caminhar pela casa, com vistas a diminuir a ansiedade, e fazer outras coisas.
O tempo extra começou e o estado de ansiedade voltou.
Mas ele, o artilheiro Mário Kempes, estava lá para marcar o segundo gol da Argentina. Será que seria o gol do título? A dúvida foi dissipada quando Bertoni marcou para a Argentina no final da prorrogação.
O juiz apitou o fim da partida e a gente podia ver a torcida no Estádio Monumental de Nuñes louca, comemorando o título inédito.
Mas há uma cena que não sai da minha cabeça até os dias de hoje. Vi o goleiro Fillol abraçado ao zagueiro Tarantini, ambos ajoelhados e chorando. E a mesma cena se repetia ali, bem em frente à televisão, na minha cara, com meu irmão e meu primo, chorando, feito duas crianças, ajoelhados e abraçados, como o goleiro e o zagueiro argentinos.
Confesso que não fiquei imune àquela cena. De meus olhos também corriam lágrimas.
Quando o capitão argentino Daniel Passarella recebeu a taça do presidente Jorge Videla, meu primo me ensinou o primeiro palavrão em castellano, mesmo sem querer, ao pronunciar a seguinte sentença: “Hijo de uma putana!”.
Naquele instante, além de aprender um palavrão em castellano, pude perceber como as coisas estavam. Mas, somente mais tarde, muito mais velho, tive a real dimensão dos fatos. Copa do Mundo, Mães da Praça de Maio (Madres de La Plaza de Mayo), Ditadura Militar, Operação Condor, tortura, “subversão” e Direitos Humanos são expressões que conheceria a fundo ano depois.
A Copa do Mundo de 1978, na Argentina, terminou, com a rotina voltando ao seu normal.
Meu primo foi embora, após algumas semanas conosco. Mais tarde fiquei sabendo que ele não regressou logo para a Argentina. Foi para a Espanha encontrar uns amigos. Descobri que aquela estadia em nossa casa fora para despistar “alguns caras” que estavam atrás dele. Ele era um jovem estudante e, como um considerável número de pessoas de sua idade, engajado em movimentos contra a Ditadura.
Só anos mais tarde, meu primo retornou para seu país, quando a situação já estava mais tranqüila, devido à queda do governo militar, após a Guerra das Malvinas, um dos fatos mais dramáticos da história argentina.
Meu primo reside com a família em Buenos Aires e atua como advogado de sindicatos, agora sem o risco de ser tachado de “subversivo”, ser preso ou desaparacer, mas ainda nos falamos por telefone.
Ele até me convidou para assistirmos ao River Plate, quando eu for por lá vê-lo. Disse-lhe que na Argentina torço pelo Boca Juniors. E ele me falou que tudo bem.
Em breve, tomaremos cerveja junto e conversaremos. Os tempos são outros, mas as histórias são eternas entre los hermanos.
Em plena era de Ditaduras, com gente sendo presa, torturada e sumindo, conseguimos viver uma democracia plena. Felizes, apesar das diferenças.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

BULLYING


No final do ano de 1982, três jovens noruegueses, com idade entre 10 e 14 anos, se suicidaram. Deixaram relatos escritos sobre os maus-tratos que vinham sendo submetidos pelos colegas de escola, até o momento em que não mais suportaram, ceifando suas próprias vidas.
O caso tomou uma dimensão, que o governo da Noruega resolveu realizar um estudo sobre a violência em ambiente escolar, cabendo ao pesquisador Dan Olweus, da Universidade de Bergen, a tarefa de iniciar os primeiros trabalhos acerca daquilo que ficaria conhecido internacionalmente como bullying.
A palavra bullying é oriunda da língua inglesa e serve para designar toda e qualquer forma de prática agressiva ou anti-social entre pares, ou seja, entre pessoas que possuem aparentemente características semelhantes.
A definição de bullying mais próxima de nossa realidade é a “violência entre pares”, termo utilizado em Portugal, que serve para expressar formas de agressão, sejam físicas ou morais, e comportamentos anti-sociais. Assim, pode-se definir bullying pelos verbos agredir, ameaçar, amedrontar, bater, brutalizar, caluniar, coagir, difamar, discriminar, humilhar, injuriar, isolar, quebrar pertences alheios, roubar pertences, violentar, vitimizar, xingar, zoar, zombar, etc.
Importa dizer que para que haja o bullying a prática agressiva ou anti-social há que ser reiterada e sem motivação aparente. Uma simples brincadeira, ainda que de mal gosto, por exemplo, não caracteriza bullying. O bullying somente se caracteriza quando uma das partes manifesta dificuldade em se defender frente às práticas reiteradas e sem motivo aparente.
Geralmente, o bullying envolve três protagonistas: autor (ou agressor), alvo (ou vítima) e espectador (ou testemunha).
O autor é aquele que pratica o bullying. A ele é atribuída a característica de pessoa com pouca empatia, convivente em ambiente familiar desestruturado e desequilibrado. Pratica o bullying como uma forma de chamar a atenção dos outros, em substituição à atenção ou limites que lhes são negligenciados pela família. Neste sentido, o autor pode ser tido como vitimizador e como vítima.
O alvo normalmente é considerado como uma pessoa com poucas habilidades físicas e/ou psíquicas para se defender das agressões. Possui pouca habilidade para se expressar e se envolver socialmente.
Há três tipos de alvo:
Alvo típico: aquela pessoa que se acha incapaz de se defender, não tem habilidade de fazer amigos com facilidade e é dotado de timidez ou introspecção. É esse tipo de pessoa que é considerada como “bode expiatório”.
Alvo provocador: aquela pessoa que freqüentemente se envolve em polêmicas e em situações que a colocam em risco. Acaba por atrair para si a atenção do grupo, inclusive dos autores de bullying.
Alvo agressor: é aquele que transmite as agressões sofridas para as outras pessoas. Depois de sofrer as agressões, sente necessidade de “extravasar”, direcionando sua fúria, mágoa ou rancor para terceiros.
Além do autor e alvo, há o espectador, pessoa que presencia a prática agressiva ou anti-social. Procura não se envolver, com o intuito de evitar se tornar o próximo alvo.
A prática do bullying pode se manifestar diretamente (agredir, ameaçar, bater, coagir, humilhar, etc.) ou indiretamente (difamar, isolar, etc.).
Hoje até já se conhece o cyberbullying, praticado por intermédio da rede mundial de computadores (internet) ou por outros meios tecnológicos como telefones celulares, bips, etc.
Há vários fatores que contribuem para a prática do bullying. Os autores, por exemplo, conforme já dito, convivem em ambiente familiar desestruturado, em que seus responsáveis exercem pouca ou nenhuma atenção ou vigilância. Imagine-se se uma criança ou adolescente que presencia seus pais se agredindo física e verbalmente, com freqüência, teria a capacidade de transmitir a outras pessoas um modelo de comportamento diverso daquele? Do mesmo modo, cabe a pergunta se é possível imprimir à criança e ao adolescente um paradigma diferente daquele presenciado na mídia, no trânsito, etc.
Fato é que a escola reproduz o mundo exterior, ficando difícil erradicar, ou pelo menos diminuir, a violência em tal ambiente se crianças e adolescentes trazem consigo valores e comportamentos agressivos e anti-sociais construídos nos seis familiares.
Neste sentido, a articulação entre a família, a escola, a sociedade e o Estado é de suma importância para que se construa aquilo que se chama “cultura de paz”.
Ao contrário do que muita gente pensa, o bullying não ocorre somente na escola. Pode acontecer em ambiente de trabalho onde se encontrem pessoas adultas. Basta que haja uma situação de igualdade hierárquica aparente.
Uma situação hierárquica assimétrica não pode ser caracterizada como bullying (violência entre pares), mas como mobbying (assédio), devendo ser tratado de outra forma.
A prática do bullying acarreta conseqüências de ordem psíquica, social e pedagógica.
As conseqüências psíquicas do bullying se manifestam principalmente pelo abalo na auto-estima da pessoa, o que acaba por gerar efeitos em sua própria intimidade e na imagem que projeta perante as outras pessoas.
Associadas às conseqüências psíquicas, as repercussões sociais se verificam pelo comprometimento que a pessoa tem em se relacionar com outras. Além de lhe criar dificuldades em ambiente escolar ou de trabalho, pelo baixo desempenho, provoca ainda comprometimento no nível afetivo.
Por fim, as conseqüências pedagógicas aparecem pela dificuldade na aprendizagem e na construção intelectual da pessoa.
As conseqüências do bullying podem ser tão devastadoras que somente o apoio profissional especializado pode diminuí-las.
Desde os estudos iniciados pelo pesquisador norueguês Dan Olweus, inúmeros outros estudos foram realizados ao redor do mundo, assim como vários programas anti-bullying já foram implementados, cabendo menção àqueles promovidos pela Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência (ABRAPIA), em 2002, especialmente na cidade do Rio de Janeiro, e por intermédio da pesquisadora Cleo Fante, em São Paulo.
Atualmente, os pesquisadores Sueli Barbosa Thomaz e Robert Lee Segal se encontram envolvidos na análise da violência em ambiente escolar, pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), a fim de coletar dados mais recentes e captar as vivências que crianças e adolescentes possuem com a violência, bem como analisar como estas vivências e subjetividades se manifestam em ambiente escolar.
O Instituto Brasil Direito (IBD) também vem trabalhando junto a algumas instituições de ensino no estado do Rio de Janeiro no desenvolvimento de programas que visam a redução da violência em ambiente escolar e a formação de uma consciência cidadã fundada na tolerância, no respeito ao diferente e na solidariedade, elementos característicos de uma sociedade democrática e pacífica.
A negligência por parte das famílias, instituições de ensino, sociedade e Estado em tratar a questão do bullying acaba por gerar situações como aquelas ocorridas em Columbine, em 1999, em Virginia Tech, 2007 (Estados Unidos), Taiúva (São Paulo), em 2003, Remanso (Bahia), em 2004, e Silva Jardim (Rio de Janeiro), no ano de 2008.
Resta saber o que queremos para nossos descendentes e em qual mundo desejamos que eles vivam.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

A MÃO INVISÍVEL


Um dia, estava sentado em frente à TV assistindo um comercial de uma empresa de alimentos. Em seu anúncio publicitário, a dita empresa mostrava um determinado produto, associando-o à saúde, com imagens ligadas ao meio ambiente, como parques, cachoeiras, o céu azul com nuvens brancas, etc.
O problema é que eu conheço a empresa em tela, uma transnacional, e seu histórico. Ela foi inclusive responsável pela degradação de um recurso hídrico numa cidade do interior do Brasil, enquanto desenvolvia sua atividade empresarial de captação e venda de uma água mineral, principalmente para o mercado externo.
Pois bem, fiquei pensando como poderia afetar aquela empresa, já que, com o conluio do Poder Público local daquela cidade do interior brasileiro, a mesma explora o recurso hídrico sem problema, aferindo lucros exorbitantes e propagando uma imagem de empresa eticamente responsável.
Lembrei-me então do célebre Adam Smith e de outros adeptos da teoria da economia liberal, em que o Estado deveria abster-se de interferir no mercado, cabendo a este próprio mercado regular suas relações, mediante regras próprias de oferta e demanda, naquilo que ficou conhecido como a “mão invisível”, ou política econômica do laisse faire e do laissez passer.
Nesta mesma ocasião, lembrei de experiências como a ocorrida na Alemanha, a partir da década de 1970, que criou o chamado selo verde. Foi com aquela experiência que, levando em consideração as regras do mercado, empresas que não se preocupavam com a conservação ambiental começaram a ter prejuízo ou, pelo menos, comprometimento em seus lucros. É que os consumidores passaram a somente adquirir produtos de empresas que possuíssem programas voltados para a preservação do meio ambiente, durante sua cadeia produtiva.
Diante da TV e com aquelas lembranças, pensei no motivo de deixar de consumir produtos daquela empresa de alimentos. Não foi difícil encontrar argumento, pois, como já dito, sabia de seu histórico de degradação ambiental e da maneira hipócrita como associava seus produtos à saúde humana e ao meio ambiente.
Lembrei também de um presidente com uma cara meia debochada, para não dizer meio idiota (basta vê-lo falar em público), para também me perguntar o porquê de adquirir produtos de um país que se nega terminantemente em assinar e ratificar convenções internacionais que versam sobre mudanças climáticas, como o Protocolo de Kioto.
Perguntei-me então: Por que consumir produtos e serviços de empresas que poluem ou degradam o meio ambiente? Por que consumir produtos de países que violam os direitos humanos e não estão preocupados com o meio ambiente?
Para se ter uma idéia da dramaticidade do problema, basta conhecer um pouco da história de Tuvalu e Kiribati, dois países formados por pequenas ilhas no Oceano Pacífico, entre a Austrália e o Havaí.
Há uma previsão realística de que a população dos dois países terá que mudar de residência, tornando-se o que já se conhece como “refugiados ambientais”.
Tudo bem, alguns poderiam até dizer que se trata de um mito do aquecimento global, eis que a elevação do nível dos oceanos tenderia a acontecer de qualquer maneira. Mas o problema parece ser o efeito catalisador da ação humana sobre a dinâmica da natureza, especialmente sobre o clima e a temperatura, mediante a remessa na atmosfera de CO2. O que poderia levar cinqüenta anos ou mais para acontecer, já se assiste, sem que se dê tempo as diversas espécies animais (inclusive nós) e vegetais de se adaptarem às novas situações.
No Brasil, há relatos de acontecimentos que envolvem o nível da maré em cidades como Olinda, em Pernambuco, por exemplo. A freqüência e o impacto que as ondas do mar têm gerado no litoral do país também vêm chamando a atenção de pesquisadores.
Fico pensando em minhas sensações de quando era criança. Ainda que já vivêssemos em ambiente comprometido, percebo que, atualmente, as coisas parecem estar fora de controle. O que ontem era uma mata verde e densa, hoje se transforma em um campo de plantação de soja ou pasto, quando não um deserto; o rio que antes banhava cidades, hoje está seco; um dia, a temperatura está fria e, de repente, no outro, mal conseguimos suportar o calor.
Também nunca poderia imaginar que um dia a água, elemento natural que achávamos que fosse inesgotável, se tornaria um bem escasso e caro.
Fico pensando em nossos filhos e netos, assim como será o nosso legado para eles.
Naquele dia, em frente à TV, ao assistir a anúncio da tal empresa de alimentos e me lembrar dos teóricos da economia liberal, pensei: ora, se o mercado tem suas próprias regras e nós somos parte integrante deste mercado, então somos nós mesmos que ditamos as tais regras.
Hoje, quando vou a um supermercado, por exemplo, antes de adquirir um produto, vejo sua marca, o fabricante, o rótulo que mostra a composição química do mesmo e outras informações que julgo relevantes, em que embalagem o produto está condicionado, etc.
Procuro não consumir água mineral e outros produtos daquela empresa que degrada um recurso hídrico numa cidade do interior do Brasil, assim como tantos outros que conheço, pois sei quais são as empresas que não se preocupam com o meio ambiente e as repercussões de suas atividades. Afinal, essa é minha "mão invisível".

UMA RECEITA CHIQUE

Você algum dia já viu numa prateleira de mercado ou num restaurante aquele paté chique que aquelas pessoas bem-sucedidas comem e que tem um nome elegante - Foie Gras.
Origiária da língua francesa, Fois Gras significa fígado do pato (ou de ganso).
Talvez você também queira ser visto comprando ou comendo Fois Gras, marcando sua imagem pessoal na alta culinária, enriquecendo assim seu capital cultural. Afinal, pessoas chiques comem Fois Gras.
Só que, o que você não sabia é que a receita é super simples e barata. Dá até pra fezer em casa, por um preço módico, muito mais em conta do que aquele dos mercados e restaurantes.
Pois bem, aqui vai a receita:
1. Pegue um pato ou ganso, preferencialmente adulto, mas ainda novo.
2. Prenda-o numa jaula bem apertada, de modo que o mesmo não possa se locomover.
3. Dê a ele ração a base de milho e gordura de porco, normalmente, cerca de 150 a 200 gramas por dia, durante 30 dias.
4. Quando atingir os 30 dias de alimentação e condicionamento, pegue o pato ou ganso, pegue uma mangueira ou um cano com aproximadamente 30 cm de comprimento e enfie na goela do animal, bem fundo, até o estômago. O animal vai sofrer um pouco, mas afinal quem é que não sofre, não é mesmo. Antes ele que você, ora.
5. Dê ao pato ou ganso entre 1 e 3 quilos de comida pela mangueira ou cano, até sentir que o animal não agüenta mais.
6. Faça isso tantos dias até que o animal morra. Não se preocupe, ele agoniza, mas morre relativamente rápido.
7. Abra o pato ou o ganso e retire seu fígado. Perceberá que o tamanho do órgão cresceu cerca de 10 vezes do tamanho original.
8. Pegue o fígado e prepare um paté delicioso. Pode adicionar ervas, óleo, azeite e outros ingredientes.
9. Sirva e saboreie com amigos ou parentes.
Bom, agora que você sabe como se faz um típico paté de Foie Gras, sabe qual é a diferença entre você e aqueles que o produzem ou comercializam? Nenhuma. Ambos compartilham da morte desgraçada de um animal que, ao agonizar, serviu para masturbar seu ego; fazer você, seus amigos e parentes se sentirem chiques e culturalmente relevantes.
Ah, esqueci de te informar uma coisa: além de compactuar nos maus-tratos dos animais, você provavelmente estará mais doente ou menos saudável. É que o paté de Foie Gras possui altíssimos índices de gordura.
Cuidado para não morrer agonizando que nem o pato ou ganso, de tanto comer iguarias, na mesma medida e em que procura engordar se ego.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

CYBER@FETO

Jonas é um cara de 20 anos. Trabalha durante o dia numa empresa de suporte técnico, prestando, por telefone, informações às pessoas que têm problemas com um provedor de internet. À noite, estuda numa faculdade no centro da cidade, mas distante do local de trabalho, fazendo com que tenha que apanhar o metrô ou um ônibus. Todos os dias, sai de casa por volta das 08:00 e retorna lá pelas 23:00.
Na empresa que trabalha, Jonas ocupa um box, dentro de uma célula, dentre tantas outras que ocupam um andar inteiro. Só em seu setor, Jonas compartilha o espaço juntamente com aproximadamente 300 pessoas.
Dentro de seu box, Jonas não vê o tempo passar, já que, cercado por paredes, sequer mantém contato visual com outras pessoas. Em frente ao monitor do computador e com um fone de ouvido, Jonas trabalha 6 horas por dia, com um pequeno intervalo de 15 minutos para ir ao banheiro e tomar um café, o que, raramente o faz na companhia de alguém, já que todos geralmente têm metas a cumprir.
Quando chega em casa, Jonas mata a saudade dos amigos. Senta-se em frente ao seu computador e, em chats, e-mails e listas, fala com todo mundo. Chegou inclusive a colocar seu perfil numa lista da internet, com o objetivo de fazer novos amigos. Vê fotos de outras pessoas, troca informações sobre filmes, músicas, livros e participa de comunidades.
Quando alguém faz aniversário, por exemplo, manda um scrap ou um mail. Quando chega o seu, os recebe.
Assim, Jonas passa seus dias, nas aulas, no trabalho, nos estudos e no computador. De vez em quando, vai ao cinema ver um filme que acabou de ser lançado. E, às vezes, encontra seus amigos pessoalmente, o que é muito pouco freqüente, dados os compromissos que tem que cumprir, assim como todas as outras pessoas.
O contato com os amigos normalmente é feito pela internet. Afinal, aí se tem um lugar para "matar" as saudades e demonstrar carinho, ainda que de forma virtual. Para mandar Bjs e Abs, basta teclar ou usar o mouse.
Afinal, pra que telefone, cartas ou contatos físicos se estamos em tempos de "cyberafeto".

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

JURO QUE TENTEI

Juro que tentei. Mesmo afirmando anteriormente que não assistiria os Jogos Olímpicos em Beijing (Pequim). E, para não dizerem que sou "do contra", tentei. Numa noite, enquanto jantava num restaurante perto de minha casa. Fiz um esforço para assistir a uma partida de handebol masculino entre o Brasil e Croácia.
Para quem conhece um pouco do panorama esportivo, sabe que as grandes potências do handebol encontram-se na Europa, sobretudo na Escandinávia (Suécia, Islândia, Noruega e Dinamarca) e no leste europeu, como na Hungria, Rússia, Romênia, Polônia e a própria Croácia, adversária do Brasil naquela partida, além de alguns outros países com a França, a Alemanha e a Espanha.
Tudo bem que o Brasil evoluiu muito na modalidade esportiva em tela, mas, daí o narrador do canal onde a partida foi transmitida indicar que a seleção nacional tinha chances frente à Croácia... bom, “aí são outros quinhentos”, como se diz por aí. A Croácia foi campeã em duas ocasiões olímpicas: 1996 (Atlanta) e 2004 (Atenas). E terminaria os Jogos Olímpicos de 2008 (Beijing) em quarto lugar.
Verdade é que o Brasil não tinha a mínima chance ou, para não dizer que sou pessimista ou “negativo”, as mínimas chances possíveis. Afinal, como dito, a Croácia é uma das potências do esporte no mundo.
Mesmo assim, o narrador da partida chegou a dizer antes da partida que o Brasil estava bem, apesar da derrota na partida anterior para os franceses, insinuando o seguinte: "que venha a Croácia"!!!
E partida correu normalmente, com a Croácia sempre à frente no marcador, aproveitando os erros do Brasil e marcando seus gols, como já era previsto, pelo menos por mim ou, provavelmente, por mais alguém.
Quando me dei conta, vi que as pessoas ao meu redor estavam “vidradas” na TV, assistindo ao jogo de handebol e cheias de esperanças na vitória brasileira. Para quem acabasse de chegar ao estabelecimento ou não soubesse nada de história esportiva, como a do handebol, por exemplo, a esperança na vitória do Brasil seria justificável, ainda mais com a colaboração do narrador da partida.
A referida partida terminou com o placar de 33 a 14 para os croatas. Vergonha para o Brasil? Não, mérito dos croatas. Mas fato é que o Brasil perdeu todas as partidas da primeira fase, com exceção da China, que venceu por 29 a 22. O país sequer passou para a fase seguinte.
Depois, tudo voltou ao normal, com as pessoas bebendo e comendo tranqüilamente. Digo, elas comeram e beberam tranqüilamente, como nada tivesse acontecido, pois comigo foi diferente.
Fiquei pensando no que acabara de ver. Uma partida de handebol transmitida para o país, em que a seleção nacional tinha, senão nenhuma, chances muito remotas de vencer a Croácia, um narrador que todo momento dava a entender que o Brasil poderia vencer a partida, mesmo que tenha permanecido o tempo todo atrás no marcador de pontos, e uma platéia cheio de esperança por aquilo que, pelo menos eu, sabia que não aconteceria.
Lembrei-me de situações parecidas, em que, mesmo sabendo o resultado previamente, pude constatar que o narrador, comentarista, repórter ou sei lá quem, tentava a todo custo “vender” uma verdade. Ou seja, tentava fazer com que as pessoas, ao assistirem as transmissões, realmente acreditassem naquilo que o profissional de comunicação falava.
Cheguei à seguinte conclusão, a qual não sei se é somente a minha: os fatos transmitidos pelos meios de comunicação, principalmente de massa, são “produtos a serem vendidos”, não importando se estes são viáveis, verdadeiros ou não. O Importante é fazer com que o espectador acredite no que vê e ouve, como quem assina um contrato de adesão (típico dos serviços e produtos de massa), sem questionar as cláusulas. Aceita a informação (como um serviço ou produto), e pronto. Os papéis paracem estar bem definidos: "eles vendem e nós compramos".
Basta um exercício de atenção ao que é dito e mostrado para se ter a noção de como as informações são manipuladas, geralmente para o avesso da verdade. Afinal, o negócio é "vender informação".
Ao assistir a partida entre Brasil e Croácia, válida pelo torneio masculino de handebol, dos Jogos Olímpicos de 2008, em Beijing (Pequim), juro que tentei. Tentei acreditar que o Brasil tinha chances de vencer, tentei acreditar que o narrador transmitia a realidade dos fatos, mas não consegui.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

1968-2008: QUARENTA ANOS QUE NÓS ASSISTIMOS.


1968 Ano Internacional dos Direitos Humanos, pela ONU.
5 de Janeiro - Início da Primavera de Praga, marcada pela vitória nas eleições do ministro Alexander Dubček, que questiona a Cortina de Ferro.
15 de Janeiro - Um terremoto mata 231 pessoas na Sicília, Itália.
21 de Janeiro - Acidente: Cai na Groelândia um bombardeiro americano B-52 com 4 bombas atômicas.
30 de janeiro - Vietcongues lançam a "Ofensiva Tet" contra os americanos durante o ano-novo vietnamita (o ano lunar chinês).
31 de Janeiro - Vietcongs atacam a embaixada americana em Saigon.
5 de fevereiro - Universidades são ocupadas por estudantes na Espanha e na Itália, e na Alemanha, um consulado americano.
18 de fevereiro - Em Berlim, grande manifestação estudantil contra a guerra do Vietnã, liderada por Rudi Dutschke.
12 de Fevereiro - A vila de Mocuba, Moçambique é elevada à categoria de cidade.
17 de Fevereiro - Uma reforma admnistrativa divide a Romênia em 39 distritos.
7 de Março - Guerra do Vietnã: Primeira batalha em Saigon começa.
12 de Março - Declarada a independência das Ilhas Maurício.
16 de Março
Robert F. Kennedy entra na disputa da presidência dos Estados Unidos pelo Partido Democrata.
Guerra do Vietnã: Tropas americanas matam vários civis (Matança de My Lai).
27 de Março - Morre o astronauta russo Yuri Gagarin.
28 de Março - Em Portugal, criação da freguesia de Ponte de Vagos.
28 de Março - O estudante paraense Edson Luís de Lima Souto, de 16 anos, é morto pela polícia no restaurante Calabouço, no Rio de Janeiro, Brasil. Secundarista e pobre, Edson estava almoçando no restaurante quando foi mortalmente baleado. Ao contrário do que o governo publicou na época, Edson não era líder estudantil nem participava de confrontos armados.
4 de Abril
Martin Luther King é assassinado em Memphis, Tennessee
Falece o jornalista e empresário Assis Chateaubriand, dono da TV Tupi e do império dos Diários Associados.
6 de abril - Lançamento do filme 2001, Uma Odisséia no Espaço, de Stanley Kubrick.
7 de Abril - Morre o ator Amílton Fernandes, o Albertinho Limonta da primeira versão da novela O Direito de Nascer de 1964.
11 de Abril - O presidente americano, Lyndon Johnson, assina a lei sobre os direitos civis.
20 de Abril - Pierre Elliott Trudeau torna-se primeiro-ministro do Canadá.
23 de Abril - Em Paris, França, é feito o primeiro transplante do coração na Europa.
23 a 30 de Abril - Guerra do Vietnã: Estudantes americanos fazem prostestos contra a guerra, na Universidade de Columbia, em Nova York.
2 de Maio - Inicio do "Maio de 1968". Estudantes se manifestam contra o "status quo". Barricadas são levantadas nas ruas e ocorrem confrontos com a polícia.
3 de Maio A Universidade de Paris (Sorbonne) é fechada pelas autoridades. A UNEF (Union nationale des étudiants de France) organiza passeatas que são dissolvidas com violência cada vez maior pela polícia.
10 de Maio A "noite das barricadas". Os estudantes ganham as simpatias de bancários, comerciantes, funcionários públicos, jornaleiros, professores e sindicalistas que aderem à causa estudantil. O protesto estudantil contra o autoritarismo e anacronismo das academias, com a adesão dos operários, transforma-se numa contestação política ao regime de Charles de Gaulle, então presidente francês.
22 de Maio - O submarino americano Scorpion afunda com 99 homens a bordo a 400 milhas de Açores.
26 de Maio - O médico Euryclides de Jesus Zerbini realiza em João Boiadeiro o primeiro transplante cardíaco do Brasil.
5 de Junho - Robert Kennedy é atingido por tiros no Hotel Ambassador em Los Angeles, na Califórnia. Kennedy morre.
25 de Julho - O Papa Paulo VI publica a encíclica Humanae Vitae, que condena o uso de anticoncepcionais.
26 de Junho - É realizada, na Av. Rio Branco, centro do Rio de Janeiro, a Passeata dos Cem Mil. Maior manifestação civil contra a ditadura militar, antes da decretação do AI-5, com participação de intelectuais, artistas e ativistas políticos. A "Marcha dos 100 Mil" representou o auge da resistência popular à ditadura e desfilou pelo centro do Rio praticamente sem nenhum incidente: o assassinato do estudante Edson Luís causou grande comoção social e, pela primeira vez - desde o golpe, os militares foram colocados na defensiva e aceitaram negociar uma pauta de reivindicações com os manifestantes. A marcha foi dedicada à memória do estudante Edson Luís, morto três meses antes.
1 de Julho - 137 países assinam acordo de não proliferação nuclear.
13 de Julho - A brasileira Martha Vasconcellos é eleita Miss Universo.
17 de julho - Lançamento do filme de animação Yellow Submarine, dos Beatles.
5 a 8 de Agosto - Convenção Republicana elege Richard Nixon como candidato a presidência dos Estados Unidos.
20 e 21 de Agosto - Fim da Primavera de Praga: Tropas soviéticas e outros países do Pacto de Varsóvia (excepto a Romênia) invadem a cidade de Praga, na Tchecoslováquia, reprimindo a população local que apoiava as reformas levadas a cabo pelo governo local.
24 de Agosto - Grécia torna-se no primeiro Estado Associado da CEE.
3 de Setembro - O jornalista e deputado federal Márcio Moreira Alves, do MDB carioca, faz discurso no congresso criticando a ditadura militar. Em dado momento, Márcio ironiza os militares, pedindo para as jovens moças evitarem dançar com cadetes. O discurso irrita os generais e Márcio é processado.
6 de Setembro - Suazilândia torna-se um país independente.
16 de Setembro - Estréia a primeira versão televisiva do humorístico Balança Mas Não Cai na Rede Globo
Morre no Rio de Janeiro num acidente automobilístico o ator de teatro e TV Celso Marques
27 de Setembro - Marcello Caetano torna-se primeiro ministro de Portugal.
2 de Outubro - Massacre de Tlateloco: massacre de estudantes na praça das Três Culturas: o exército mata 48 pessoas durante manifestação estudantil no México.
2 e 3 de Outubro - A rua Maria Antônia, na cidade brasileira de São Paulo, onde se situavam a Universidade Mackenzie e a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo é palco do conflito que ficou conhecido como a "Batalha da Maria Antônia".
O general peruano Juan Velasco Alvarado dirige um golpe de estado, iniciando o regime militar que durou até 1980 no Peru.
11 de Outubro - Lançada a Apollo 7, cuja missão foi a primeira televisionada.
12 a 27 de Outubro - Pela primeira vez na América Latina realizam-se Jogos Olímpicos, na Cidade do México.
12 de Outubro - Declarada a independência da Guiné Equatorial.
14 de Outubro - O Departamento de Defesa dos Estados Unidos anuncia que enviará 24.000 soldados para a Guerra do Vietnã.
15 de outubro- Prisão de líderes estudantis no 30º Congresso da UNE, realizado em Ibiúna (São Paulo - Brasil): mais de 700 delegados eleitos nas universidades foram presos pelas forças policiais.
20 de Outubro - Aristóteles Onassis e Jacqueline Kennedy casam-se na Grécia.
5 de Novembro - Richard Nixon torna-se presidente dos Estados Unidos ao vencer as eleições.
7 de Novembro - Inaugurada a nova sede do Museu de Arte de São Paulo, na Avenida Paulista.
14 de Novembro - A australiana Penelope Plummer é eleita Miss Mundo.
19 de Novembro - É lançado o Chevrolet Opala no Brasil.
26 de Novembro - Intervindo pela primeira vez na Assembléia Nacional, Marcello Caetano pronuncia-se a favor da manutenção da presença portuguesa em África.
13 de Dezembro - O Presidente Costa e Silva decreta o AI-5 - Ato Institucional número 5, dando início ao período mais fechado e violento da ditadura militar no Brasil iniciada em 31 de Março de 1964. O ato, que durou dez anos, foi motivado pela recusa do Congresso Nacional em condenar o deputado Márcio Moreira Alves pelo discurso de setembro, que afrontou a ditadura.
1978 Ano Internacional Antiapartheid, pela ONU
27 de Janeiro - Proclamada a Declaração Universal dos Direitos dos Animais, pela UNESCO.
27 de Fevereiro - A Presidência, a Assembleia e o Governo da República Portuguesa repudiam o pedido do dirigente líbio Muammar al-Gaddafi para a independência da ilha da Madeira, considerada pela Organização de Unidade Africana como pertencendo a África.
3 de Março - O corpo de Charlie Chaplin é roubado do cemitério, numa tentativa de extorsão.
22 de Junho - James Walter Christy descobre Caronte, satélite de Plutão.
7 de Julho - Independência das Ilhas Salomão.
24 de Julho - A sul-africana Margaret Gardiner é eleita Miss Universo.
6 de Agosto - Morre o Papa Paulo VI, depois de 15 anos de pontificado.
26 de Agosto - O cardeal Albino Luciani se torna o Papa João Paulo I.
28 de Agosto - Alfredo Nobre da Costa substitui Mário Soares no cargo de primeiro-ministro de Portugal.
12 de Setembro - Declaração de Alma Ata - Conferência Internacional sobre cuidados primários de saúde.
28 de Setembro - Morre o Papa João Paulo I, 33 dias depois de ser eleito.
1 de Outubro - Independência de Tuvalu.
14 de Outubro - Aberto o canal de desvio do Rio Paraná para permitir o arranque das obras de Itaipu.
16 de Outubro - O cardeal Karol Józef Wojtyła, da Polônia, é eleito como Papa João Paulo II.
3 de Novembro - Independência da Dominica.
14 de Novembro - Fundação da Amil Assistência Médica, no Brasil.
16 de Novembro - A argentina Silvana Súarez é eleita Miss Mundo.
22 de Novembro - Carlos Mota Pinto substitui Alfredo Nobre da Costa no cargo de primeiro-ministro de Portugal.
31 de Dezembro - No Brasil, Ernesto Geisel envia emenda ao congresso para acabar com o AI-5, num passo importante que confirma as promessas de transição lenta e gradual da ditadura para a democracia.
François Truffaut filma O Quarto Verde.
Deng Xiaoping inicia reformas na República Popular da China.
Na Espanha é adotada uma nova Constituição.
George W. Bush concorre à Câmara dos Representantes e é derrotado pelo democrata Kent Hance.
A Grécia adota a sua bandeira atual.
Bülent Ecevit substitui Süleyman Demirel como primeiro-ministro da Turquia.
Julio César Turbay Ayala substitui Alfonso López Michelsen como presidente da Colômbia.
Surge a primeira drive de disquetes barata, concebida por Steve Wozniak.
Suicídio em massa dos seguidores do pastor Jim Jones, que tomaram veneno, morrendo cerca de 912 pessoas.
É criado o avião Boeing 767.
1988
9 de Janeiro - Aprovação do regimento do CEFET-MG, pela portaria 003.
1 de Fevereiro - As vilas portuguesas de Gouveia, Loulé, Moura, Peniche, Tondela e Vila do Conde são elevadas a cidade.
25 de Março - Em Portugal, criação da freguesia de Bicos, no concelho de Odemira.
19 de Abril - Em Portugal, a Aldeia Nova de São Bento, no concelho de Serpa, é elevada a vila, passando a designar-se Vila Nova de São Bento; Fundão, Marinha Grande, Montemor-o-Novo e Vila Real de Santo António são elevadas a cidade.
23 de Maio - A tailandesa Porntip Nakhirunkanok é eleita Miss Universo.
28 de Junho - Consistório presidido pelo Papa João Paulo II, criou 25 cardeais, dentre os quais os brasileiros José Freire Falcão e Lucas Moreira Neves e o moçambicano José Maria dos Santos, OFM.
29 de Setembro - um desempregado brasileiro seqüestra um Boeing 737, em protesto contra a política recessiva do então presidente José Sarney, mata o co-piloto e afirma que pretende jogar o avião sobre o Palácio do Planalto. É morto ao pousar em Goiânia.
5 de Outubro - Promulgada a atual Constituição brasileira, também chamada Constituição Cidadã.
17 de Novembro - A islandesa Linda Pétursdóttir é eleita Miss Mundo.
O acontece o primeiro ataque de um vírus de computador.
2 de Dezembro - Benazir Bhutto toma posse como primeira-ministra do Paquistão para seu primeiro mandato. É a primeira mulher a ocupar este cargo em um estado muçulmano moderno.
Amapá e Roraima deixam de ser territórios brasileiros e passam a ser Estados.
Criado o estado do Tocantins em 5 de outubro de 1988.
A Santa Sé autorizou os primeiros testes de datação radiométrica ao sudário de Turim; os resultados indicam idades no intervalo 1260-1390, o que não chega a provar que a relíquia é falsa, pois o objeto sobreviveu a vários incêndios, o que altera o efeito do método.
1998 Ano Internacional do Oceano, pela ONU.
Fernando Henrique Cardoso é reeleito no Brasil.
A Senadora Benedita da Silva é a primeira mulher a presidir a sessão do Congresso Nacional.
12 de Janeiro - Dezenove nações europeias proíbem a clonagem humana.
20 de Janeiro - Polícia do Nepal intercepta um carregamento de 272 caveiras humanas em Katmandu.
14 de Fevereiro - Fidel Castro ordena a libertação de 318 presos políticos e de delito comum.
22 de Fevereiro - Desabamento do Palace II no Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, devido à falhas na estrutura.
1 de Março - O submarino de ataque USS Sea Devil começa a ser desactivado.
2 de Março - Dados enviados da sonda Galileu indicam que a lua, de Júpiter, Europa possui um oceano líquido por baixo de uma pequena camada de gelo.
10 de Março - Soldados norte-americanos estacionados no Golfo Pérsico começam a receber as primeiras vacinações contra anthrax.
14 de Março - Um terremoto, de intensidade 6,9 (escala Richter), atinge o Irã.
19 de Março - Restauração do concelho português de Vizela.
24 de Março - Em Jonesboro, Arkansas, dois jovens (de 11 e 13 anos de idade) disparam contra estudante na Escola de Westside, enquanto escondido nos bosques perto da escola. Quatro estudantes e um professor são mortos, e dez feridos.
27 de Março - A FDA (administração de alimentos e drogas dos EUA) aprova o Viagra para ser utilizado no tratamento de impotência masculina, tornando-se o primeiro medicamento aprovado para tratar esta doença nos Estados Unidos da América.
4 de Abril - Inaugurada a Ponte Vasco da Gama, em Lisboa, a maior ponte da Europa.
10 de Abril - Assinatura do Acordo de Belfast.
12 de Maio - A trinitária Wendy Fitzwilliam é eleita Miss Universo.
18 de Maio - Inauguração da Linha do Oriente do Metropolitano de Lisboa (Portugal)
31 de Maio - Saída da integrante Geri Halliwell,do grupo Britânico Spice Girls.
25 de Junho - Lançamento do Windows 98, sistema operativo da Microsoft
7 de Agosto - Atentados terroristas contra embaixadas estadunidenses em Quênia e Tanzânia.
1 de Setembro - A vila portuguesa de Vizela é elevada a cidade.
7 de Setembro-Nasce a empresa Google.
14 de Setembro - Papa João Paulo II publica a encíclica "Fides et Ratio"
24 de Setembro - a estação de Engenheiro Rubens Paiva da linha 2 do metrô é inaugurada no Rio de Janeiro.
27 de Setembro - O Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD) sob Gerhard Schröder vence as eleições na República Federal da Alemanha.
2008 Ano Internacional das Línguas, pela ONU
19 de fevereiro - Fidel Castro renuncia a presidência e ao comando das forças armadas de Cuba.
26 de fevereiro - O Vaticano libera ao público os arquivos referentes a inquisição no século XVI.
12 de março - Início das manifestações no Tibete contra a repressão chinesa. A partir daí, em vários países do mundo ocorrem manifestações pró-Tibete.
29 de março - Em cerca de 400 cidades do mundo ocorreu o Earth Hour, um movimento pela salvação do planeta Terra do aquecimento global.
01 de agosto - Eclipse total do Sol.
08 de agosto - A Rússia invade o território da Ossétia do Sul na República da Geórgia.
02 de setembro - Irrompe a pior crise financeira mundial desde a crise de 1929.
04 de novembro - Eleição de Barack Obama a presidência dos Estados Unidos da América, tornando-se o primeiro presidente negro (ou afro-descendente) daquele país.

Fonte: http://www.wikipedia.org/

domingo, 17 de agosto de 2008

MANIFESTO DA TERRA-MÃE

Carta enviada em 1854, pelo Chefe Índio Seattle (1786-1866), da tribo dos Suquamish, do Estado de Washington, ao então Presidente dos Estados Unidos da América Franklin Pierce, depois que o Governo norte-americano lhe propôs a compra do território há muito tempo ocupado pelo seu povo.

" – Como podeis comprar ou vender o céu, o calor da terra? A idéia não tem sentido para nós. Se não somos donos da frescura do ar ou o brilho das águas, como podeis querer comprá-los? Qualquer parte desta terra é sagrada para meu povo. Qualquer folha de pinheiro, cada grão de areia nas praias, a neblina nos bosques sombrios, cada monte e até o zumbido do inseto, tudo é sagrado na memória e no passado do meu povo.
A seiva que percorre o interior das árvores leva em si as memórias do homem vermelho. Os mortos do homem branco esquecem a terra onde nasceram, quando empreendem as suas viagens entre as estrelas; ao contrário os nossos mortos jamais esquecem esta terra maravilhosa, pois ela é a mãe do homem vermelho.
Somos parte da terra e ela é parte de nós.
As flores perfumadas são nossas irmãs, os veados, os cavalos a majestosa águia, todos nossos irmãos. Os picos rochosos, a fragrância dos bosques, o calor do corpo do cavalo e do homem, todos pertencem à mesma família.
Assim, quando o grande chefe em Washington envia a mensagem manifestando o desejo de comprar as nossas terras, está a pedir demasiado de nós. O grande Chefe manda dizer ainda que nos reservará um sítio onde possamos viver confortavelmente uns com os outros. Ele será então nosso pai e nós seremos seus filhos. Se assim é, vamos considerar a sua proposta sobre a compra de nossa terra. Isto não é fácil, já que esta terra é sagrada para nós. A límpida água que corre nos ribeiros e nos rios não é apenas água, mas o sangue de nossos antepassados. Se lhes vendermos a terra, recordar-se-á e lembrará aos vossos filhos que ela é sagrada, e que cada reflexo nas claras águas evoca eventos e fases da vida do meu povo. O murmúrio das águas é a voz do pai do meu pai.
Os rios são nossos irmãos, e saciam a nossa sede. Levam as nossas canoas e alimentam os nossos filhos. Se lhes vendermos a terra, deveis lembrar e ensinar aos vossos filhos que os rios são nossos irmãos, e também o são deles, e deveis a partir de então dispensar aos rios o mesmo tratamento e afeto que dispensais a um irmão. Nós sabemos que o homem branco não entende o nosso modo de ser. Ele não sabe distinguir um pedaço de terra de outro qualquer, pois é um estranho que vem de noite e rouba da terra tudo de que precisa. A terra não é sua irmã, mas sua inimiga, depois de vencida e conquistada, ele vai embora, à procura de outro lugar. Deixa atrás de si a sepultura de seus pais e não se importa. A cova de seus pais é a herança de seus filhos, ele os esquece. Trata a sua mãe, a terra, e seu irmão, o céu, como coisas que se compram, como se fossem peles de carneiro ou brilhantes contas sem valor. O seu apetite vai exaurir a terra, deixando atrás de si só desertos. E isso, eu não compreendo.
O nosso modo de ser é completamente diferente do vosso. A visão de vossas cidades faz doer os olhos do homem vermelho.
Talvez seja porque o homem vermelho é um selvagem e não compreende... Nas cidades do homem branco não há um só lugar onde haja silêncio, paz. Um só lugar onde ouvir o desabrochar das folhas na primavera, o zunir das asas de um inseto. Talvez seja porque sou um selvagem e não possa compreender.
O vosso ruído insulta os nossos ouvidos. Que vida é essa onde o homem não pode ouvir o pio solitário da coruja ou o coaxar das rãs nas margens dos charcos e ribeiros ao cair da noite? O índio prefere o suave sussurrar do vento esfolando a superfície das águas do lago, ou a fragrância da brisa, purificada pela chuva do meio-dia e aromatizada pelo perfume dos pinhais. O ar é inestimável para o homem vermelho, pois dele todos se alimentam. Os animais, as árvores, o homem, todos respiram o mesmo ar. O homem branco parece não se importar com o ar que respira. Como um cadáver em decomposição, ele é insensível ao mau cheiro. Mas se vos vendermos nossa terra, deveis recordar que o ar é precioso para nós, que o ar insufla seu espírito em todas as coisas que dele vivem. O vento que deu aos nossos avós o primeiro sopro de vida é o mesmo que lhes recebe o último suspiro.
Se vendermos nossa terra a vós, deveis conservá-la à parte, como sagrada, como um lugar onde mesmo um homem branco possa ir saborear a brisa aromatizada pelas flores dos bosques. Por tudo isto, consideraremos a vossa proposta de comprar nossa terra. Se nos decidirmos a aceitá-la, eu porei uma condição: O homem branco terá que tratar os animais desta terra como se fossem seus irmãos.
Sou um selvagem e não compreendo outro modo de vida. Tenho visto milhares de bisões apodrecendo nas pradarias, mortos a tiro pelo homem branco de um comboio em andamento. Sou um selvagem e não compreendo como o fumegante cavalo de ferro possa ser mais importante que o bisão, que nós caçamos apenas para sobreviver. Que será dos homens sem os animais? Se todos os animais desaparecem, o homem morrerá de solidão espiritual. Porque o que suceder aos animais afetará os homens. Tudo está ligado. Deveis ensinar a vossos filhos que o solo que pisam é a cinza de nossos avós. Para que eles respeitem a terra, ensina-lhes que ela é rica pela vida dos seres de todas as espécies. Ensinai aos vossos filhos o que nós ensinamos aos nossos: Que a terra é a nossa mãe.
Quando o homem cospe sobre a terra, cospe sobre si mesmo. De uma coisa nós temos certeza: A terra não pertence ao homem branco; o homem branco é que pertence à terra. Disso nós temos a certeza. Todas as coisas estão relacionadas como o sangue que une uma família. Tudo está associado. O que fere a terra fere também aos filhos da terra. O homem não tece a teia da vida: é antes um dos seus fios. O que quer que faça a essa teia, faz a si próprio.
Nem mesmo o homem branco, cujo Deus passeia e fala com ele como um amigo, não pode fugir a esse destino comum. Por fim talvez, e apesar de tudo, sejamos irmãos. Uma coisa sabemos, e que talvez o homem branco venha a descobrir um dia: o nosso Deus é o mesmo Deus.
Hoje pensais que Ele é só vosso, tal como desejais possuir a terra, mas não podeis. Ele é o Deus do homem e sua compaixão é igual tanto para o homem branco, quanto para o homem vermelho.
Esta terra tem um valor inestimável para Ele, e ofender a terra é insultar o seu Criador. Também os brancos acabarão um dia talvez mais cedo do que todas as outras tribos. Contaminai os vossos rios e uma noite morrerão afogados nos vossos resíduos. Contudo, caminhareis para a vossa destruição, iluminados pela força do Deus que vos trouxe a esta terra e por algum desígnio especial vos deu o domínio sobre ela e sobre o homem vermelho. Este destino é um mistério para nós, pois não compreendemos como será o dia em que o último bisão for dizimado, os cavalos selvagens domesticados, os secretos recantos das florestas invadidos pelo odor do suor de muitos homens e a visão das brilhantes colinas bloqueada por fios falantes. Onde está o matagal? Desapareceu. Onde está a águia? Desapareceu.
Termina a vida começa a sobrevivência.”

terça-feira, 12 de agosto de 2008


A vida é um grande teatro,
Em que todos representam,
Dependendo do lugar, do elenco e do momento.
Alguns assumem os papéis principais,
Enquanto outros os de coadjuvantes.
E quem não representa, sai de cena.

domingo, 10 de agosto de 2008


terça-feira, 5 de agosto de 2008

AS 100 MÚSICAS MAIS TOCADAS EM 1968.

1 Hey Jude - Beatles
2 Viola Enluarada - Marcos Valle & Milton Nascimento
3 Baby - Gal Costa & Caetano Veloso
4 Sá Marina - Wilson Simonal
5 Love Is Blue - Paul Mauriat
6 Light My Fire - Jose Feliciano
7 Se Você Pensa - Roberto Carlos
8 MacArthur Park - Richard Harris
9 Pata Pata - Miriam Makeba
10 Tenho Um Amor Melhor Que o Seu - Antonio Marcos
11 Última Canção - Paulo Sergio
12 Sou Louca Por Você - Elizabeth
13 San Francisco (Be Sure To Wear Flowers In Your Hair) - Scott McKenzie
14 Mrs. Robinson - Simon & Garfunkel
15 A Chuva Que Cai - Os Caçulas
16 Pra Nunca Mais Chorar - Vanusa
17 The Rain, The Park And Other Things - Cowsills
18 Do You Want To Dance - Johnny Rivers
19 Só o Ôme - Noriel Vilela
20 Segura Esse Samba Ogunhé - Osvaldo Nunes
21 Dio Come Ti Amo - Gigliola Cinquetti
22 Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores (Caminhando) - Geraldo Vandré
23 I Love You - People
24 La Dernière Valse - Mirelle Mathieu
25 Minha Primeira Desilusão - Silvinha
26 Summer Rain - Johnny Rivers
27 Hello Goodbye - Beatles
28 The Fool On The Hill - Sergio Mendes & Brasil '66
29 Divino Maravilhoso - Gal Costa
30 Playboy - Silvinha
31 (Theme From) Valley Of The Dolls - Dionne Warwick
32 Honey - Bobby Goldsboro
33 Little Green Apples - O.C. Smith
34 As Canções Que Você Fez Pra Mim - Roberto Carlos
35 Hurdy Gurdy Man - Donovan
36 Mony Mony - Tommy James & The Shondells
37 Angel Of The Morning - Merrilee Rush & The Turnabouts
38 Andança - Beth Carvalho & Golden Boys
39 Judy In Disguise (With Glasses) - John Fred & His Playboy Band
40 Free Again - Barbra Streisand
41 Aranjuez Mon Amour - Lafayette
42 I Say A Little Prayer - Aretha Franklin
43 Ciúme de Você - Roberto Carlos
44 Stormy - Classics IV
45 Never My Love - The Association
46 The Ballad Of Bonnie & Clyde - Georgie Fame
47 Le Bruit Des Vagues - Romuald
48 The Good, The Bad & The Ugly - Hugo Montenegro
49 Alvorada no Morro - Clara Nunes
50 (Sittin' On) The Dock Of The Bay - Otis Redding
51 Helena, Helena, Helena - Taiguara
52 Simon Says - 1910 Fruitgum Co.
53 A Pobreza - Leno
54 Soy Loco Por Ti America - Caetano Veloso
55 O Milionário - Os Incríveis
56 Modinha - Taiguara
57 Parabéns, Querida - Robert Livi
58 Lonely - The Lovin' Spoonful
59 Cry Like A Baby - The Box Tops
60 Quero Lhe Dizer Cantando - Agnaldo Rayol
61 Sabiá - Cynara & Cybele
62 Superbacana - Caetano Veloso
63 São São Paulo - Tom Zé
64 Carolina - Chico Buarque
65 Gimme Little Sign - Brenton Wood
66 Você Passa e Eu Acho Graça - Clara Nunes
67 2001 - Os Mutantes
68 Eu Sou Terrível - Roberto Carlos
69 Neon Rainbow - The Box Tops
70 Massachusetts - Bee Gees
71 Cabide de Molambo - João da Baiana
72 Nem Vem Que Não Tem - Wilson Simonal
73 Eu Daria a Minha Vida - Martinha
74 Those Were The Days - Mary Hopkin
75 Jumpin' Jack Flash - The Rolling Stones
76 Daydream Believer - The Monkees
77 Silence Is Golden - The Tremeloes
78 Alvorada no Morro - Odete Amaral
79 Kid Games And Nursery Rhymes - Shirley and Alfred
80 The Last Waltz - Engelbert Humperdinck
81 Era Um Garoto Que Como Eu Amava os Beatles e os Rolling Stones - Os Incríveis
82 Dom Quixote - Os Mutantes
83 Revolution - The Beatles
84 Meu Primeiro Amor - José Ricardo
85 Me Deixa em Paz - Waldik Soriano
86 Samba do Criolo Doido - Cynara & Cybele
87 Pára, Pedro - José Mendes
88 Lapinha - Elis Regina
89 Aquela Rosa - Eliana Pittman
90 Amor Desesperado - Orlando Dias
91 Perdoa-me - Orlando Dias
92 Yummy Yummy Yummy - Ohio Express
93 It Must Be Him - Vicki Carr
94 Anjo Triste - Sergio Reis
95 Pressentimento - Marilia Medalha
96 Casa de Bamba - Martinho da Vila
97 To Sir With Love - Lulu
98 Green Tambourine - The Lemon Pipers
99 Ela Desatinou - MPB-4
100 Silêncio - Joelma

Fonte: www.mofolandia.com.br

sábado, 2 de agosto de 2008

NA CORDA BAMBA, COMO TANTOS OUTROS MENINOS

Carlos era um menino que nasceu e viveu numa comunidade carente do Rio de Janeiro. Assim como tantos outros meninos, convivia com a alegria e criatividade típica de qualquer comunidade carente no país. Mas, também convivia com o drama do tráfico de drogas.
A mãe de Carlos, como tantas outras mães, trabalhava numa casa na zona sul da cidade, todos os dias, oitos horas por dia. Quanto ao pai, Carlos não teve a oportunidade de conhecê-lo, pois aquele, como tantos outros pais, havia saído de casa quando Carlos ainda era bebê.
Carlos estudava numa escola pública, como tantas outros meninos, pela manhã. E, a tarde, tinha que se virar sozinho em casa. Afinal, sua mãe somente chegava em casa à noite, como tantas outras mães.
Um dia, um dos meninos que trabalhava no tráfico de drogas, como tantos outros meninos, pediu para que Carlos comprasse um remédio numa das farmácias da cidade, pois o tal menino não poderia sair da comunidade rumo ao “asfalto”. Era perigoso para ele; poderia ser preso ou morto, tanto pela polícia como por alguma facção rival.
Carlos recebeu uma nota de cinqüenta reais e para a farmácia partiu. Comprou o tal remédio, que custou quase dez reais, e o entregou ao “menino do tráfico”. Quando ia entregando o troco, Carlos recebeu a informação que “poderia ficar com a grana”.
Com o dinheiro na mão, Carlos olhou ao seu redor e notou que o “menino do tráfico” usava um tênis importado, um cordão de ouro, uma bermuda da moda e tinha várias “namoradas”. Carlos percebeu que o “menino do tráfico” tinha um “padrão de vida melhor” do que o seu.
Carlos se lembrou que sua mãe que, como tantas outras mães, trabalhava muito para ganhar uma mísera remuneração; não tinha “vida”, já que chegava tarde em casa, cansada o bastante para lhe dar atenção. Lembrou-se de quantas vezes sua mãe, como tantas outras mães, dormiu em frente a TV, tarde da noite.
Carlos voltou a sair da comunidade para comprar coisas para os “meninos do tráfico”, até o dia em que, seduzido pelos seus “benefícios”, começou a “trabalhar”. Começou como olheiro, virou soldado e foi parar na “endolação”. Conseguiu comprar tênis importado, bermuda da moda e cordão de ouro. Usou pistola, fuzil e granada.
Um dia, durante uma troca de tiros com a polícia, Carlos foi morto, como tantos outros meninos.
A vida no tráfico ou fora dele muitas vezes depende de como um menino se equilibra numa corda bamba. E Carlos caiu da corda, como tantos outros meninos.