quarta-feira, 18 de junho de 2008

AS JANELAS

Edgar acordava todos os dias por volta das oito horas da manhã. Tomava banho e cuidava da higiene pessoal antes de qualquer coisa.
Depois, tomava seu café da manhã, calmamente, saboreando cada pedaço de pão, cada fruta e cada gole de café com leite.
Partia para sua rotina diária – trabalho pela manhã e à tarde, com um intervalo para almoço.
Chegava em casa por volta das seis horas, trocava de roupa e ia para sua caminhada, exercício físico que não abria mão, como costumava declarar.
Certo dia, não se sabe se cansado de sua vida ou compelido pelas novas tendências do mundo moderno, Edgar resolveu fazer um curso, com o intuito de “melhorar sua carreira profissional”.
Mas, como as aulas eram ministradas à noite, não restou alternativa a Edgar senão colocar sua caminhada para mais tarde. O único problema é que, com sua atividade profissional e suas aulas, Edgar foi, aos pouco, tomado por um cansaço que o fez desistir de suas caminhadas.
Edgar se destacou tanto no curso que foi convidado para dar aulas. Tal possibilidade foi aceita, apesar dos compromissos que a ela estavam atrelados, tais como preparação das aulas, montagem da pauta, correção das avaliações, etc.
As aulas e os compromissos que as mesmas envolviam fizeram Edgar somente comparecer a sua empresa em dias alternados da semana. E, como necessitava compensar suas ausências, pelo volume de trabalho que ia se acumulando, Edgar ficava sempre até quase às dez horas da noite na empresa.
A rotina de Edgar foi ficando intensa, mas nada que lhe deixasse sentir o peso dos compromissos. Afinal, sempre sobrava uma “janela” entre um compromisso e outro.
A atividade profissional de Edgar lhe exigia reuniões com fornecedores e clientes. E, como tinha que trabalhar na própria empresa e dar aulas, Edgar tentava “encaixar” as reuniões com fornecedores e clientes nas “janelas” que surgiam.
O trabalho acumulado, as reuniões cada vez mais freqüentes e as aulas que exigiam dedicação logo se juntaram a um outro curso, pois, devido às possibilidades profissionais que agora se apresentavam e às aspirações financeiras, Edgar não poderia deixar de lado.
A rotina de Edgar passou a ser cada vez mais intensa que, num determinado momento de sua vida, não conseguia dormir mais do que seis horas por noite (quando conseguia dormir as tais seis horas) e já não tinha mais tempo para tomar seu café da manhã; quando muito, comia uns biscoitos e tomava um simples café. Saía pela manhã tão apressado e, freqüentemente atrasado, que não tinha tempo sequer para arrumar a cama, lavar a louça ou ler o jornal, como fazia antigamente.
Da mesma forma, Edgar não possuía mais tempo para o almoço; comia qualquer coisa por onde quer que estivesse, num ritmo que mal mastigava o alimento.
A vida social foi ficando de lado, principalmente em razão do cansaço. Edgar já não mais dava suas caminhadas à noite e nem saía com os amigos ou comparecia aos eventos que era convidado. Foi se isolando, ao ponto de somente conseguir ter algum contato com os amigos por intermédio da internet. Entre um compromisso e outro, encontrava uma “janela” para ver e enviar suas breves mensagens pelo computador. Não ligava mais pra ninguém, pois uma conversa pelo telefone consumiria um tempo que Edgar não mais dispunha.
Certo dia, em decorrência da estafa provocada pelo excesso de atividades (trabalho, aulas, reuniões, cursos, etc.), Edgar começou a passar mal e, antes que pudesse pedir por socorro, veio a falecer em meio a um enfarto súbito, ali, bem no meio da rua, enquanto se dirigia de sua empresa para o local de um outro compromisso.
Edgar foi enterrado numa tarde como qualquer outra. Poucos amigos compareceram ao seu enterro, pois muitos estavam ocupados com seus respectivos compromissos. Os que puderam ir ao evento, estavam lá graças a uma “janela”, entre um compromisso e outro.
Edgar era um cara legal, mas, afinal, a vida de todos tem que seguir adiante. Ele é sempre lembrado pelos amigos, quando há uma “janela”.

domingo, 15 de junho de 2008

MUITO MAIS QUE UMA SIMPLES VONTADE DE MUDAR O MUNDO.


Durante o século XVIII, num período conhecido com a Era das Luzes, o economista e filósofo escocês Adam Smith (1723-1790) se tornaria um dos mais influentes prensadores desta época. A partir de sua obra A Riqueza das Nações, Adam Smith lançou as bases do liberalismo econômico.
Considerando a conjuntura de sua era, o pensador escocês analisava o que ficou conhecido como a mão invisível, ou seja, o sistema em que a própria economia e o comércio ditariam suas regras, mediante a intervenção mínima do Estado.
Cerca de duzentos anos depois da morte de Adam Smith, o mundo se deparou com o que se convencionou chamar de neoliberalismo. A consolidação do sistema econômico transnacional mais uma vez parece ter colocado o papel dos Estados-nações em xeque.
Neste contexto sócio-econômico global, apresenta-se um quadro catastrófico do meio ambiente. Com vistas a subsidiar o capitalismo (mas não somente ele, pois os sistemas socialistas também contribuíram para tanto), os recursos ambientais foram apropriados sem a mínima racionalidade, pelo menos até o último quartel do século XX, quando, a partir da publicação de estudos como o realizado pelo denominado Clube de Roma (década de 1960) – Limites do Crescimento (Limits to The Growth) – a questão ambiental foi trazida à baila.
Foi também a partir deste estudo que surgiu o conceito de desenvolvimento sustentável, que viria a orientar a publicação do conhecido Relatório Brundtland e a realização das Conferências das Nações Unidas de 1972, em Estocolmo, e em 1992, na cidade do Rio de Janeiro.
O atual estado de degradação ambiental e de quase esgotamento dos recursos ambientais nos leva a pensar qual o papel que cada Estado, nação, povo e cidadãos exerce na mudança de tal realidade.
Considerando o sistema neoliberal, em que mais uma vez o capital parece ditar as regras de mercados e até mesmo sociais, transgredindo assim os limites geopolíticos, pode-se afirmar que é o cidadão, aqui qualificado como consumidor, e, portanto, parte integrante do próprio mercado, quem detém o poder transformação da realidade caracterizada pela degradação ambiental.
Assim, perguntas como “consumir pra que?”, “quanto consumir?”, “como consumir?” e “de quem consumir?” tornam-se de suma importância para a mudança que se pretende, utilizando-se, é claro, as regras do paradigma neoliberal.
Ora, por que se deve consumir produtos de países que não respeitam os direitos humanos e o meio ambiente? Que se recusam a assinar e ratificar o protocolo de Kioto, por exemplo? O mesmo se aplica às empresas que não desenvolvem programas de responsabilidade socioambiental em seus respectivos processos produtivos.
Neste viés, a educação ambiental se faz fundamental, não como um simples instrumento de informação, mas de percepção crítica da realidade e de transformação da mesma, caso contrário, significa mero atavismo. É preciso uma educação que rompa com o fatalismo e o sentimento letárgico que parece ter tomado conta das pessoas. Uma educação que faça as pessoas compreenderem que este Planeta de dimensões limitadas pertence a todos nós e que, considerando-o como uma espaçonave, proporcione a todos perceber que seu rumo depende de nós mesmos, para o bem ou para o mal.