quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Express@ando, com Fernanda Vieira.




Fernanda Vieira é formada em Psicologia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e especialista em Saúde Mental e Desenvolvimento Infanto-Juvenil pela Santa Casa de Misericórdia do RJ. Há cerca de 7 anos coordena a equipe que trabalha na Cara Lar da Mangueira, instituição desenvolvida pelo GRES Estação Primeira de Mangueira, que é responsável pelo atendimento de aproximadamente vinte jovens, do sexo masculino, portadores de deficiência física, mental, psíquica e/ou sensorial. Fernanda conduz a batuta de uma equipe com 20 funcionários. Casada e mãe de Maria Clara, Fernanda se dedica da maneira quase integral ao atendimento daqueles jovens, fazendo um malabarismo entre as suas atribuições, o atendimento clínico em seu consultório e sua vida doméstica. Seu grau de comprometimento se dá de forma tão intensa que carrega, às vezes, sua filha para o trabalho e, frequentemente, leva tarefas pra casa. Numa visita à Casa Lar Mangueira, pode-se observar a dedicação de Fernanda e dos funcionários, além de perceber que a instituição vai contra o estereótipo de “depósito de gente”. Mas, mesmo com muita dedicação, Fernanda garante que há muito a se fazer.
Robert Segal: Naturalmente, o que as pessoas querem saber, é como uma jovem psicóloga foi parar na Casa Lar Mangueira. O que te levou a esta instituição e a trabalhar com este público específico, ou seja, jovens com deficiência física, mental, psíquica e/ou sensorial?


Fernanda Vieira: Comecei minha jornada no Programa Social da Mangueira ainda como acadêmica da UERJ, através de um estágio no Posto de Saúde Mangueira, localizado dentro da Vila Olímpica da Mangueira. Por dois anos acompanhei os grupos terapêuticos com idosos, hipertensos e mulheres no climatério (menopausa). O envolvimento com o projeto social foi tão grande que quis dar continuidade às atividades com idosos e, já como profissional formada, fiquei como voluntária por cerca de 6 meses. Em meados de 2000, fui contratada pelo Projeto Olímpico como Psicóloga para dar suporte ao “Projeto Estação Primeira da Melhor Idade” e “Projeto para Pessoas com Necessidades Especiais”. Uma vez nesse universo de pessoas, famílias e histórias muito especiais, tornou-se impossível me desvencilhar. Em Maio de 2003, iniciamos o desafio de assumir a Coordenação da Casa Lar Mangueira, uma instituição criada para acolher crianças e adolescentes com deficiência, transferidos de uma instituição que estava passando por desajustes administrativos e sob intervenção da Vara da Infância, da Juventude e do Idoso do Estado do Rio de Janeiro. Na verdade, acho que não fomos nós que recebemos os meninos, e sim eles que nos receberam de braços e corações abertos.
Robert Segal: Já havia trabalhado com o público jovem antes e, particularmente com este público?


Fernanda Vieira: Minha primeira experiência profissional foi como estagiária em uma Clínica Dia, desenvolvendo atividades terapêuticas com pacientes com transtornos psiquiátricos. Depois de um ano e meio fui circular por outras áreas da psicologia, até que me deparei novamente com a área da saúde mental. No entanto, o trabalho em um abrigo é diferente de qualquer outra instituição, pois as pessoas moram lá. Não dá para simplesmente fechar a porta e dizer que “retomamos esta questão na semana que vem”. Tudo é questão para agora. A terapia, a escola, a comida, o remédio, a limpeza, o banho, a roupa, o lençol... Não tem curso que nos ensine ou manual de orientação. Só quebrando a cabeça e tentando...
Robert Segal: Numa visita a Casa Lar Mangueira pode-se ver nitidamente como a instituição contraria o estereotipo de “depósito de gente”, como vemos em algumas reportagens pela televisão. Pode-se ver um estabelecimento limpo, equipado e com um material mínimo para o atendimento daqueles jovens. Como vocês fazem para manter e instituição?


Fernanda Vieira: A Casa Lar Mangueira é um dos projetos do Programa Social da Mangueira, e pertence ao Grêmio Recreativo Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira. Mantemos um convênio com o Governo do Estado do Rio de Janeiro, através da Fundação para Infância e Adolescência.
Robert Segal: E o que vocês conseguem de recurso é suficiente?


Fernanda Vieira: Não. O convênio cobre apenas cerca de 60% das despesas da instituição. O restante dos recursos, nós os arrecadamos através de doações de pessoas físicas e jurídicas e em eventos organizados na Casa Lar, como bazares e festas.
Robert Segal: Então, o que a Casa Lar Mangueira precisa mais?


Fernanda Vieira: Material de limpeza, de higiene pessoal e alimentos, como frutas, verduras, legumes e carnes.
Robert Segal: Como alguém pode ajudar a instituição que abriga estes jovens?


Fernanda Vieira: De tantas formas... Pode vir conhecer a Casa Lar e conversar um pouco... Apesar de termos necessidades materiais também precisamos contatos. Empresas, instituições de saúde, de assistência social, de orientação jurídica e de eventos culturais são muito bem vindos e não implicam, necessariamente, em investimento financeiro. Mas quem quiser enviar doações, estas serão muito bem vindas. Dependendo da quantidade, podemos buscar no endereço do doador também.
Robert Segal: Como está sua vida hoje?


Fernanda Vieira: Estou me organizando... Me divido entre a Casa Lar, o consultório e minha família. Tem dias que invisto nos três. Em outros, fico mais tempo com os meninos do que com a Maria Clara. Tento compensar no fim de semana, curtindo bastante a pequena.
Robert Segal: Às vezes, você leva sua filha à Casa Lar Mangueira, especialmente, nos fins de semana, quando tem algum trabalho pra fazer lá. Você não tem medo de algo aconteça com sua filha?


Fernanda Vieira: De jeito nenhum! A Casa Lar faz parte da minha vida e principalmente da minha família. Os meninos acompanharam a minha gestação e conhecem a Maria Clara desde que nasceu. Todos têm um enorme carinho por ela e tenho certeza que ela também tem por eles. Desde pequena, vinha para a Casa Lar e ficava na minha sala, no tapete com seus brinquedos. Assiste desenhos e brinca com eles. No ano passado, fizemos seu aniversário de 2 anos na Casa Lar, pois eu e Jorge (marido) sabíamos o quanto era importante esse enlace familiar.
Robert Segal: O que você espera que sua filha aprenda, mantendo contato com jovens deficientes físicos, mentais, psíquicos e/ou sensoriais?


Fernanda Vieira: Amor. Um sentimento incondicional, sem pré-conceitos ou limites. Não quero que ela precise se formar para aprender a importância da diversidade e do respeito inerente às relações. Se ela tiver esses valores solidificados em sua formação, será um ser humano muito mais capaz do que nós somos.
Robert Segal: O que você tem a dizer para as pessoas que lêem esta entrevista?


Fernanda Vieira: Venha conhecer a Casa Lar! Aqui é um espaço de aprendizado constante. Temos amigos que atravessam o oceano para vivenciar experiências com os meninos e formam uma grande “Rede do Bem”, compartilhando sentimentos e ideais.
Robert Segal: E seus contatos?


Fernanda Vieira: casalarmangueira@gmail.com
A Casa fica na Rua João Rodrigues nº 41, São Francisco Xavier, Rio de Janeiro.
Tels: (21) 3298-0470, 3880-4526 e 7140-5841.

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