sábado, 2 de agosto de 2008

NA CORDA BAMBA, COMO TANTOS OUTROS MENINOS

Carlos era um menino que nasceu e viveu numa comunidade carente do Rio de Janeiro. Assim como tantos outros meninos, convivia com a alegria e criatividade típica de qualquer comunidade carente no país. Mas, também convivia com o drama do tráfico de drogas.
A mãe de Carlos, como tantas outras mães, trabalhava numa casa na zona sul da cidade, todos os dias, oitos horas por dia. Quanto ao pai, Carlos não teve a oportunidade de conhecê-lo, pois aquele, como tantos outros pais, havia saído de casa quando Carlos ainda era bebê.
Carlos estudava numa escola pública, como tantas outros meninos, pela manhã. E, a tarde, tinha que se virar sozinho em casa. Afinal, sua mãe somente chegava em casa à noite, como tantas outras mães.
Um dia, um dos meninos que trabalhava no tráfico de drogas, como tantos outros meninos, pediu para que Carlos comprasse um remédio numa das farmácias da cidade, pois o tal menino não poderia sair da comunidade rumo ao “asfalto”. Era perigoso para ele; poderia ser preso ou morto, tanto pela polícia como por alguma facção rival.
Carlos recebeu uma nota de cinqüenta reais e para a farmácia partiu. Comprou o tal remédio, que custou quase dez reais, e o entregou ao “menino do tráfico”. Quando ia entregando o troco, Carlos recebeu a informação que “poderia ficar com a grana”.
Com o dinheiro na mão, Carlos olhou ao seu redor e notou que o “menino do tráfico” usava um tênis importado, um cordão de ouro, uma bermuda da moda e tinha várias “namoradas”. Carlos percebeu que o “menino do tráfico” tinha um “padrão de vida melhor” do que o seu.
Carlos se lembrou que sua mãe que, como tantas outras mães, trabalhava muito para ganhar uma mísera remuneração; não tinha “vida”, já que chegava tarde em casa, cansada o bastante para lhe dar atenção. Lembrou-se de quantas vezes sua mãe, como tantas outras mães, dormiu em frente a TV, tarde da noite.
Carlos voltou a sair da comunidade para comprar coisas para os “meninos do tráfico”, até o dia em que, seduzido pelos seus “benefícios”, começou a “trabalhar”. Começou como olheiro, virou soldado e foi parar na “endolação”. Conseguiu comprar tênis importado, bermuda da moda e cordão de ouro. Usou pistola, fuzil e granada.
Um dia, durante uma troca de tiros com a polícia, Carlos foi morto, como tantos outros meninos.
A vida no tráfico ou fora dele muitas vezes depende de como um menino se equilibra numa corda bamba. E Carlos caiu da corda, como tantos outros meninos.

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