quarta-feira, 4 de agosto de 2010

O SUBLIME NÃO SE RELACIONA COM O PATÉTICO


Por Verônica Malkah.


Ao meditar sobre essa frase - “o sublime não se relaciona com o patético”, tomei ciência de minha própria arrogância, da minha relação arrogante com o Sagrado.
O Sagrado não se relaciona com o que seja patético... e como somos patéticos na tentativa de nos relacionarmos com o Sagrado! Como somos medíocres, achando que o Sagrado nos deve a revelação e o esclarecimento de nossas angústias, o afastar de nossas dores e de todo e qualquer sofrimento. O Sagrado nos deve isso?
Achamos que podemos desbravar o Sagrado, penetrar em seus mistérios e que por sermos excelentes desbravadores (afinal, somos eruditos, estudiosos, temos uma boa capacidade de raciocínio), merecemos a recompensa da plenitude, da prosperidade, da sabedoria infinita, do final feliz para sempre.
O Sagrado não nos deve nada, o sublime não se aproxima da barganha, da chantagem, das falsas adorações e rezas.
Somos tão arrogantes espiritualmente que afastamos nossos próprios corpos da idéia de desenvolvimento, achando que apenas o intelecto nos abrirá as portas do paraíso.
Nos contentamos em “intelectualizar” sobre a vida e nos esquecemos que viver é correr riscos, é se abrir para o desconhecido, para aquilo que não controlamos, não sabemos, não prevemos. E, para anestesiar o medo infantil e imaturo da morte (pois para nós, o risco de nos abrirmos e sofrermos se equivale a morrer) nos dedicamos única e exclusivamente a sobreviver. E ainda exigimos que o Sagrado nos conceda uma sobrevivência próspera, com conforto, pouco trabalho e muito prazer...
Quem restringiu a relação com o Sagrado a essas míseras barganhas?
Se não estamos vivendo de acordo com as nossas vontades pessoais então nos lembramos do Sagrado e passamos a nos dedicar a uma pseudo espiritualidade: vamos às missas, rezamos, oramos, meditamos, compramos livros e talismãs, nos inscrevemos em cursos e palestras de gurus e mestres, dizemos ao universo o quanto desejamos a conexão com o Sagrado, quando na verdade desejamos apenas satisfazer nossas vontades pessoais.
Será que continuaríamos indo às missas, aos templos, às palestras, às rezas se soubéssemos que nada disso é garantia de afastarmos a dor e o sofrimento? Será que seríamos fiéis em nossa conduta espiritual se, de fato, percebêssemos que a despeito de toda essa dedicação o Sagrado continuaria a não nos dever nada?
Será que realmente sabemos o que é o Sublime ou nos relacionamos apenas com uma fantasia irreal sobre um ente que nos concede recompensas ou punições?
Se não houver uma profunda reflexão sobre essas questões e um grande esforço em identificar a forma contemporânea (rasa e superficial) de se aproximar do Sagrado, não conseguiremos eliminar os resíduos internos que nos impedem de saborear uma gloriosa experiência significativa (que não se confunde com uma experiência prazerosa ou de acordo com as nossas vontades).

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